Portugal é grande demais para os segredos e tesouros que esconde, fazemos a mesma estrada vezes sem conta e transformamos uma aventura numa tarefa, e esquecemos a fantasia de olhar para uma porta e imaginar as histórias e vidas que ela esconde.
Na estrada que separa Belmonte de Manteigas, está a praça de Valhelhas, denunciada pelo pelourinho, a fonte e igreja, onde fui encontrar um dos tais segredos.
Na Praça Doutor José de Castro (antigo notável e benfeitor da freguesia), vai encontrar várias casas, mas é a de pedra e com a placa a dizer Vallécula (antigo nome romano da aldeia) que nos prende a atenção.
O interior é tão encantador como a sua fachada, paredes de xisto, longos barrotes de madeira, que diariamente são a residência de muitas galinhas e galos de madeira, ferro e porcelana, que além de habitantes fazem parte da decoração do restaurante.
São poucas as mesas, e com casa cheia só dá para sentar 32 pessoas. No fim-de-semana são sempre escassas para o número de comensais que procura o Vallécula. No meu caso, tive sorte e consegui marcar mesa apenas com uma hora de antecedência.
Luís Castro é o proprietário e anfitrião da casa, esboça um largo e acolhedor sorriso e simpaticamente nos encaminha à mesa. Já sentado, recebo novamente a companhia de Luís, que sugere algumas especialidades enquanto entrega a ementa manuscrita.
O pão, requeijão com pimenta e a mousse de grão-de-bico foram os primeiros a chegar, seguido da alheira de caça com açorda de enchidos.
Há pessoas que facilitam muito a tarefa de quem vai avaliar, e a Fernanda, cozinheira da casa, não se perde em aventuras e respeita o receituário sempre com os melhores produtos.
A alheira não era apenas de caça, era da casa e da Fernanda, e foi um abrir de refeição com chave de ouro.
Luís e Fernanda são os proprietários há mais de 10 anos, casados para lá dos vinte anos e dividem o trabalho da casa, ele na sala e ela na cozinha.
Boa gastronomia, poucos custos e contas pagas!
Voltando à mesa, e agora que chegaram as suculentas costeletinhas de borrego com puré de maçã e esparregado, muito bem grelhadas, com o sabor fumado a unir-se à qualidade da carne - nada a apontar, apenas um elogio.
Segue-se o prato da casa: galo no vinho com pleurotos. Para quem pensa que vai comer algo um pouco mais seco, tire da mente esse pensamento, pois o galo é bastante suculento, cheio de sabor e desfaz-se na boca, sendo uma harmonia entre produto, confecção, aroma e a nossa boca. Voltarei várias vezes para comer o galo.
É muito difícil de qualificar qual o prato melhor, ou mais bem confeccionado, e apesar de não ter provado toda a ementa, dava para ver pela cara de satisfação nas outras mesas que há muito mais por explorar, desde a truta salmonada recheada com presunto serrano, o bacalhau na tiborna, o coelho com castanhas, e nas sobremesas o pudim de requeijão ou as papas de carolo com mel de rosmaninho.
São todas opções que certamente não o vão desiludir.
Terminei com um cocktail de frutos secos com licor (da casa), figos, pinhões, amêndoas, uma rapsódia bem regada pelo licor doce que, apesar de não me encantar, estava com produtos frescos.
A selecção de vinhos é boa e a preços muito apelativos, havendo mais de 60 rótulos para escolher: Dão, Douro Superior e muitos das beiras, do qual destaco a Quinta dos Termos. No meu caso optei pelo vinho da casa (Beira) servido no decanter - uma excelente relação preço qualidade (€7,50).
Boa gastronomia, uma sala de encantar e um serviço muito simpático, fazem do Vallécula um segredo para alguns, destino obrigatório para muitos e um tesouro para mim.
Detalhes
Restaurante Vallécula
Praça Doutor José de Castro, 1
Valhelhas
6300-235 - Guarda
W 7º 24' 6'' N 40º 24' 23''
+351 275 487 123 / +351 962 778 111
Encerra ao Domingo ao Jantar e Segunda todo o dia
Horário: 12h30 às 15h00 e das 19h30 às 22h30
Preço médio: €25
Tipo de Cozinha: Tradicional portuguesa
Cartões: Multibanco
2 comentários:
Visitei o restaurante do Sr. Luis há já uns anos e tive o prazer de ter a sala só para mim, a minha mulher e a minha filha o que facilitou assim a conversa com ele e com a esposa. Tenho pena de na altura não ter escrito sobre uma das melhores experiências que tive à mesa neste nosso pais.
Ainda assim, não está esquecido. Já o sugeri mais que uma vez e todos quantos lá têm passado vêm a dizer maravilhas.
Desejoso de lá voltar pois então.
Olá Pedro,
Realmente a cozinha do Vallécula é algo a não perder.
O Luis é muito simpático e a Fernanda muito divertida, é uma dupla muito engraçada.
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