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terça-feira, 12 de outubro de 2010

GIRO e Bom de Garfo!

Recentemente estive a gravar com a TV Record Internacional!

Se tudo correr bem, a partir de agora vou ser companhia regular aos sábados no GIRO, e o segmento vai se intitular: "Bom de Garfo".

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Contemporaneidade sobre história

Lisboa é uma cidade que esconde pequenos segredos e grandes tesouros por todos os seus cantos e recantos, se procurarmos facilmente encontramos algo que nos maravilha.

Foi através de um convite para um almoço que me foi revelado um "dois em um".

Primeiro, entrei num pátio pequeno, no entanto fantástico, onde havia espaço para pouco mais de dois pares de carros, e, ao sair da viatura, entrei no hall que antecede a sala de jantar - já havia prenúncio de uma fantástica revelação.

Nada se gorou e as expectativas completaram-se: uma sala fantástica decorada de forma clássica, uma varanda de sonho e uma vista sobre um jardim que, quem não viu, não acredita que seja possível.

Estou na sala de jantar do Hotel Olissipo Lapa Palace, no restaurante Lapa, onde a primeira de duas revelações já está apresentada.

Agora, sentado à mesa, deixo de pensar na vista e decoração e foco-me na relevância deste texto: a gastronomia.

A carta divide-se em quatro especialidades mediterrânicas, seis entradas, seis sopas e pastas, quatro peixes, quatro carnes e pouco mais de meia dúzia de sobremesas.

A carta de vinhos é enriquecida conforme a chegada de novos e elegantes néctares, mantendo-se actual e adequada. Claro que há muitas propostas para harmonizações de toda a ementa e surpresas, como o amouse bouche.
Apesar de parecer que este é o relato de uma visita, na realidade é o resultado de várias visitas e degustações, sendo que, como em tudo, há uns que ganharam rapidamente o meu coração e outros que não chocaram, mas também não encantaram.

Do que provei e degustei, rendi-me rapidamente ao gaspacho do Lapa Palace com gambas (€16), suave e boa acidez - poderá ser uma opção de Verão ou de Inverno: apesar de frio, vence em todas as estações.

A sopa de ervilhas da época com lavagante (€16), a minha primeira opção quente é igualmente suave e o lavagante fantástico - não foram forretas e deram bastante do crustáceo para se mastigar, e que boa que estava a sopa!

O lombo de borrego com abóbora e aroma de café (€27) não é dos meus preferidos, pois gosto dos pratos mais salgados do que doces. A abóbora teve um papel dominante não no aroma, mas no açúcar, e o café era suave, não havendo um forte contrabalanço da acidez.
No fim da minha primeira visita, terminei com aquele que foi o meu preferido: Atum fresco marinado com abacate picante, crocante, salada de ervas e clementina fresca (€14). O atum revelou-se fresquíssimo e tudo o que estava no prato combinava e harmonizava - doce, amargo, ácido, crocante... bem, gostei verdadeiramente deste prato pela sua irreverência.

O jovem sub-chefe Hélder Santos, com a supervisão do veterano chefe Pimenta, venceram rapidamente este round, deixando-me num verdadeiro knock-out gastronómico. Se todos os combates fossem neste formato, haveria mais procura pela derrota do que pela vitória, pois o crítico só tem espaço para o elogio.

Mais uma visita e mais uma conquista dos chefes do restaurante Lapa. Desta vez, a experiência começou da mesma forma: optei novamente pelo gaspacho.

Seguiram-se as gambas "al allijo" (€14) que, apesar da repetição do marisco, em nada parecia que repetia, pois era um prato apresentado de forma diferente, mas repleto de sabor tradicional e com um pequeno twist do chefe.

Neste dia, terminei com uma das minhas sobremesas preferidas - o discreto mas saboroso tiramisú: bem executado, o doce é suave, o cacau não engasga e o final é algo para ficar na memória. Não sei se foi herança do anterior chefe italiano, mas a execução mantém-se exímia.

Restaurante Lapa: serviço impecável, execução gastronómica fantástica, sobre sabores que se recordam.

Detalhes
Olissippo Lapa Palace
www.olissippohotels.com
Rua Pau de Bandeira, 4, 1249 - 021 Lisboa
W 9º 9' 52'' N 38º 42' 28''
+351 213 949 494 / reservations@lapa-palace.com
Horário: Aberto todos os dias das 12h30 às 15 e das 19h30 às 22h30.
Preço: €55 com bebidas
Tipo de Cozinha: Portuguesa e italiana contemporânea
Cartões: MB, Visa, AMEX, Maestro, Mastercard, Dinners

Texto publicado originalmente no Lifestyle do diário OJE a 30 de Setembro de 2010

domingo, 26 de setembro de 2010

Um Oceano Gastronómico

Sou um verdadeiro apaixonado pelo nosso país, se há algo de que não me envergonho é de começar um texto com um pouco de orgulho nacional.

Gosto do Algarve, sempre gostei desde criança, e tenho a certeza de que vou continuar a gostar.

São tantas as surpresas gastronómicas que esta região oferece, sempre prezando a mais alta qualidade.

Se formos fazer uma análise fria, é a região do país que tem mais estrelas e recomendações do guia Michelin, menções no guia American Express, entre outros.

Desde que conheci a cozinha do restaurante The Ocean, sob a batuta do jovem chefe austríaco Hans Neuner, fiquei com a certeza de que é possível chegar às tão cobiçadas três estrelas Michelin.

Eu sei que foi ainda há pouco tempo que ele recebeu a primeira, mas se a ambição, criatividade e nível técnico se mantiverem, nada vai parar este talento gastronómico.

O Ocean está integrado no luxuoso e fantástico resort hoteleiro do Vila Vita Parc, em Porches, tendo uma sala de decoração simples onde os pormenores são tão discretos que a atenção vai para os quatro pontos mais importantes: uma vista de sonho sobre a costa algarvia, um serviço de mesa e de louça dificilmente superáveis, uma garrafeira de fazer corar o mais nobre escanção e uma gastronomia única e exemplar.

A ementa está sempre a mudar e as sugestões têm um período de permanência de apenas uma semana, mas vou falar de algumas que, nos últimos tempos, me surpreenderam.

À mesa chegou um recipiente que, tal como uma cebola, vai-se revelando camada a camada.

Das três houve uma que mereceu uma atenção extra: era uma sardinha de escabeche enrolada com um pequeno gomo de toranja e um espantoso merengue que lhe incutia uma textura crocante simplesmente admirável.

Outra das referências que ainda se encontra no menu é a presa de porco preto com maçã Granny Smith, um ligeiro puré de alho e uma panchetta, em que o ponto do porco estava perfeito, combinado de forma subtil com a acidez da maçã e potenciado pelo ligeiro picante do puré de alho.

Este prato foi acompanhado pelo Herdade do Grous 23 Barricas, um dos ‘vinhos da casa', uma vez que os proprietários do resort também são os donos da Herdade do Grous.

Nas sobremesas, destaco a irreverente combinação entre o queijo de Azeitão líquido com muesli estaladiço de legumes e fruta - este é um daqueles pratos que se ama ou se odeia.

No meu caso, a paixão foi imediata. Sou um rendido ao ‘Azeitão' e achei esta combinação simplesmente divinal.

E porque o Sado estava mesmo presente neste prato, a combinação vínica foi com o Moscatel Roxo 1999 da Quinta da Bacalhoa, que se enquadrou perfeitamente na harmonização.

Com o café chegaram umas mignardises, também elas fantásticas.

Nada é feito ao acaso, tudo tem justificação e enquadramento.

Hans Neunar é um nome a decorar, pois este chefe ainda tem muito para crescer e, neste momento, já é gigante!

Para comentar este artigo ou sugerir temas contacte o autor por gourmet@live.com.pt.


Detalhes
Restaurante The Ocean
Vila Vita Parc - Alporchinhos 8400-450 Porches
W 8º 22' 45'' N 37º 6' 6''
+351 282 310 100 / reservas@vilavitaparc.com
Horário: Aberto de quinta-feira a segunda-feira a partir das 19h.
Preço: Menu 4 pratos €90, 6 pratos €125
- suplemento vinhos €95/€65
Tipo de Cozinha: Autor
Cartões: MB, Visa, Maestro, Mastercard, Dinners

Texto publicado originalmente no Lifestyle do diário OJE a 15 de Setembro de 2010

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Dos bifes ao sushi

Dos bifes ao sushi
Por Vicente Themudo de Castro

Reza a história que os portugueses não gostam de fazer as suas refeições em centros comerciais ou hotéis, mas parece que o tempo faz esquecer os preconceitos.

Agora há mais centros comerciais que habitantes, e os hotéis passaram a ser locais cool.

Entrei no Tivoli Fórum em Lisboa e desci as escadas rolantes que levam à parte inferior do centro, e onde outrora era o Babá Ratón, está o mais recente espaço do Olivier: Yakuza.

A decoração foi realizada por Sofia Costa e o espaço está completamente diferente.

Os roxos, os verdes e o preto das ardósias foram trocados, por cores limpas: branco, dourado, prateado e muito cintilante.

Passa assim de trendy para chic, e das carnes cozinhadas para o peixe cru.

A degustação é o prato forte da casa, pois há para todos os gostos e preços, ora vejamos: Menu Tomodashi (€25) 3 entradas do dia, combinado de 12 peças de sushi e sashimi e um gunka olivier; Omakasse (€35), este combina o Tomodashi com um bacalhau preto marinado em miso e teriyaki ou um camarão gigante flambeado em saké; Yakuza (€50) combina novamente o Tomodashi com um gunka yakuza (niguiri com um mini hambúrguer de Kobe, mini trufa e mini ovo de codorniz), o camarão flambeado e Ususuki de Kobe com molhos ponzu e teriyaki.

A estes valores tem de acrescentar as bebidas e sobremesas.

Nas minhas visitas apercebi-me que as matérias-primas são de boa qualidade, como o toro de atum, a carne kobe (apesar de não ser da tajima-ushi japonesa é bastante saborosa e macia), o bacalhau preto bastante agradável e bem preparado com o miso.

Infelizmente não houve tempo para os abalones, mas certamente que não próxima visita não escapam.

Não fiquei fã do camarão, pois pareceu-me ligeiramente seco, quanto às entradas, nem sempre são as mesmas mas as que provei superaram a prova.

A carta conta ainda com uma grande variedade de sushi e sashimi, peixes e carnes marinados, ceviches, tempuras, tatakis e gyosas.

Sempre que visitei o espaço estava cheio por isso aconselho a reserva, ou acontece como eu ter que voltar noutro dia.

O nome Yakusa é normalmente dado à máfia japonesa, mas não me parece ter visto lá nenhum membro, apenas um sinal quando apareceu a conta.

Não é barato mas é apetecível.

Detalhes
Restaurante Yakuza by Olivier
Edifício Tivoli Fórum - Av.da Liberdade 180, Loja F 1250-146 Lisboa
W 9º 8' 42'' N 38º 43' 13''
+351 213 571 502
Horário: Encerram ao domingo e sábado ao almoço. Aberto 12h30 às 15h e das 20h às 23h.
Preço: €30 (sem bebidas)
Tipo de Cozinha: Japonês de fusão
Cartões: MB, VISA, MASTERCARD, AMEX,

domingo, 4 de julho de 2010

O Moscatel de Favaios

O Moscatel de Favaios

Por Vicente Themudo de Castro


Moscatel que viu a sua primeira produção na década de 50 na vila de Favaios, onde outrora foi a antiga povoação romana de Flávius, é hoje reconhecido como um dos mais bebidos no nosso país. A vila de Favaios, conta com uma história muito longa e rica, mas definitivamente o seu maior marco foi em 1952 foi o nascimento da Adega Cooperativa de Favaios.


A sua produção desde dos anos 50 evolui não só na quantidade, como no formato, pois a sua imagem de marca são as mini-garrafas de favaito, popularmente bebidas frescas, e muitas vezes com uma rodela de limão.


Eu no meu caso, gosto de beber muito gelado, mais precisamente a 8º, com um pouco de sumo de limão e água tónica. No verão é verdadeiramente refrescante. Nas grandes superfícies podemos encontrar 12 garrafas de 0,06Lt por €6.50, e no caso da garrafa de 0,75Lt os preços rondam os €5.


Mas a evolução fez com que além dos mais bebidos moscatéis de Portugal, alargasem a sua produção a Portos, vinhos de mesa e quem sabe o que vem num futuro próximo.

Voltando aos moscatéis, o seu melhor e mais nobre produto, tenho que destacar dois: A colheita de 1980, engarrafada em 2007 e o Favaios de 10 anos.


O primeiro de cor dourada e límpida, é rico em laranja, mel e passas, e bastante harmonioso na boca. Um final fresco com as nozes e o mel a prevalecerem.


Este é certamente um vinho para se beber fresco e de forma individual, ou a acompanhar uma sobremesa bastante doce. Poderá encontrar esta garrafa nas principais garrafeiras a 17€.


Quanto ao moscatel de 10 anos, a conversa é diferente. Com uma cor verdadeiramente real, ouro e muito brilhante, na boca sobressaem os frutos secos, o doce e a tangerina. Termina de forma longa, elegante e com acidez pronunciada.


No caso de harmonizações, poderá acompanhar bem doces alentejanos, mas a minha recomendação é de beber fresco e de forma degustativa, sem pratos ou doces.

O preço desta garrafa situa-se normalmente nos 14€.


Favaios é mais do que uma vila, é um local onde se produz um excelente Moscatel.


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quarta-feira, 2 de junho de 2010

Quinta dos Avidagos

OJE - Lifestyle - 2010.06.02

Conta com mais de 300 anos de história, e um número muito maior de gerações que, desde o séc XVII, associa a família Nunes de Matos à agricultura e vitivinicultura na região do Baixo Douro.

A Quinta da Varanda foi adquirida em 1665, sendo mesmo uma das mais antigas da região. Em 1730, fruto de um casamento dos filhos da casa, junta-se, em dote, a Quinta do Torrão e mais tarde, já em 1940, adquirem a Quinta da Fírvida e Além Tanha.

A mais recente é a Quinta dos Avidagos que, além de ser a mais conhecida, é agora a casa da família, lagar e a imagem de marca.

Apesar de não ser um dos vinhos do Douro mais mediáticos, algumas das quintas já vêm incluídas no mapa do país vinhateiro feito pelo Barão de Forrester no séc. XIX, o que demonstra uma tradição vinhateira com muita história e longevidade.

Neste momento, têm quatro quintas dedicadas à produção de vinho, acumulando sensivelmente 70 ha, que resultam em duas marcas distintas: Além Tanha e Avidagos.

Recentemente, tive acesso a alguns dos seus vinhos e noto claramente uma evolução positiva, não só a nível qualitativo como de preços, criando uma boa relação preço/qualidade.

A sua gama de entrada a preços entre os €3 a €4, sendo eles o Quinta dos Avidagos Tinto, Branco e Rosé, são equilibrados e aveludados, podem ser bebidos a qualquer refeição, não obrigando a grandes pensamentos.

São vinhos que se bebem bem a qualquer momento.

Mas os que me encheram verdadeiramente a boca foram os reservas. Ora vejamos:

O Avidagos Reserva Tinto 2007, pontuado recentemente pela revista Wine com 17 pontos, é produzido a partir de vinhas em xisto e grande exposição solar, que infere às castas tinta roriz, tinta barroca e touriga franca e touriga nacional características únicas.

De um vermelho profundo, aromas fortes de frutos vermelhos maturados e ameixa preta, revela-se intenso e aveludado na boca, terminando num final longo.

Um vinho interessante, cheio de personalidade, ideal para pratos de carne pouco aromáticos. Podemos encontrá-lo no Continente e garrafeiras a partir dos 9,50€.

Ainda na gama Avidagos, temos o Grande Reserva 2007 tinto que, apesar do seu preço mais alto, 32€, não desilude na relação preço/qualidade.

Que o diga o júri de uma das mais importantes provas de vinhos do mundo, Concours Mondial de Bruxelles, que não hesitou em atribuir-
-lhe a medalha de ouro. Apesar de estar pronto para se beber, poderá ficar mais um tempo na garrafa a ganhar novas e melhores características.

Apresenta-se muito elegante no nariz, sobressaindo as notas vegetais e o doce da framboesa, na boca sente-se, de forma agradável, o fumado da madeira, as frutas maduras e uns taninos equilibrados, terminando forte e prolongado.

Fantástico para pratos muito intensos, como um cabrito à minhota ou umas tripas à moda do Douro.

Por último, falo um pouco do meu preferido, o Além Tanha Grande Reserva 2007. Está quase a ser apresentado ao mercado, mas penso que ainda vamos ter que esperar umas duas semanas, mas o preço rondará os 23€ e o potencial é estrondoso.

Na sua maioria produzido a partir de vinhas velhas e com um estágio de 12 meses em carvalho, tornou-se um vinho intenso no nariz, muito frutado. A boca revela equilíbrio, potenciando os frutos silvestres através de uns taninos firmes, e um final longo e apaixonante.

Bom para apreciar depois de um longo dia de trabalho ou simplesmente para degustar e apreciar.

São vinhos a degustar, apreciar e guardar mas, acima de tudo, são vinhos para se beber.

Texto publicado originalmente no Lifestyle do diário OJE a 2 de Junho de 2010

quarta-feira, 12 de maio de 2010

O japonês no Porto

OJE - Lifestyle - 2010.05.12

Fotografia Fernando Guerra

Pensar que uma garagem num sub-piso do Hotel Porto Palácio se podia transformar num restaurante de referência, é quase impensável, mas aconteceu e chama-se GóShò!

A arquitectura do espaço, desenvolvida pelo japonês Haruo Morishima em parceria com a NC-arquitectos, é uma verdadeira caixa de surpresas. As salas privadas, os balcões de preparação de sushi, o balcão com a mesa de teppan envolvidos por um ambiente marcado pelas cortinas metálicas, criando um ambiente exótico e oriental.

Foi de tal forma que a prestigiada revista YearBook Arquitectura em Portugal da Workmedia não se escusou de fazer um artigo, destacando a forma criativa e arrojada que este projecto gastronómico estabeleceu com a sua arquitectura.

O projecto gastronómico conta com a consultadoria do chefe Paulo Morais para a cozinha e do Sommelier Manuel Moreira, garantindo de forma consistente, a este restaurante de cozinha asiática, o selo de qualidade.

Não consigo deixar de notar que era uma segunda-feira e o restaurante apresentava um número muito razoável de mesas cheias, as idades eram uma viagem que se iniciava nos pós-25 de Abril até à aprovação da constituição de 1933, mostrando que os restaurantes apetecíveis são para todas as idades. Dei início à viagem ao oriente, começando a minha degustação com o Ebi no Haru Maki, que são uns mini crepes Primavera com camarão e legumes (3 unidades), com um molho agridoce: fazem uma boa combinação, apesar de achar que o aviso de que eram ligeiramente picantes teria sido importante.

Seguiu-se o Yaki Hotategai, uma espetada de vieiras grelhada com ar de Eucalipto (2 unidades). Elegantemente chapeadas e depois envoltas num molho em espuma com aromas de eucalipto, uma experiência de mar terminando com uma boca muito fresca.

Sinto-me quase como a falar de vinhos, mas não vejo outra forma de explicar as sensações.
O House maki, rolo de arroz com caranguejo gigante do Alasca, rebentos de ervas, tobikko e maionese, era desinteressante e não activava nenhum ingrediente, no entanto não era desagradável.

O Sashimi Góshò, constituído por cinco fatias de pregado com um molho de azeite e alho, ligeiramente braseado, estava bom mas, no entanto, sentia-se um pouco do sabor chamuscado dado pelo maçarico.

Nos principais, optei pelo Ebi to kai, marisco do dia grelhado com sal de citrinos: neste dia era o camarão tigre, sabor e textura excelente; gostaria, porém, que a cabeça estivesse um pouco menos crua.

A Gyoza, raviolli de frango com molho citrinos (5 unidades), foi o grande vencedor da noite: agradável na boca, e o sabor perdurava agradável no palato durante bastante tempo.

Um pouco desiludido com o Yasai, legumes do dia na chapa, porque algumas peças vinham um pouco queimadas.

Terminei com a ménage à trois de chocolate, que era constituída por uma mousse de chocolate negro, financier de chocolate de leite e gelado de chocolate branco com wasabi.

Gostei, apesar de a inclusão da mostarda wasabi no gelado ser um pouco estranha, mas depois da terceira colherada fica mais agradável. Acompanhei a refeição com o rosé da casa, copo €4 e garrafa €18. A bom preço e agradável na boca, foi uma boa companhia a toda a refeição.

Ainda há menus especiais e combinados, desde sushi, sashimi a quentes, e os preços variam entre €8 no sushi vegetariano até aos €50 do menu de degustação. Está preparado para todos os gostos e carteiras. De uma forma geral, gostei do espaço e recomendo. No entanto, gostaria de ver uma carta nova, pois parece-me que esta já está a precisar de reforma.

O serviço foi sempre bom, substituindo todas as minhas exigências por uma opção válida e adequada.

Um espaço agradável, bonito, em que a cozinha é boa. Entretanto fico à espera de novidades.

Detalhes
Restaurante Góshò
Avenida da Boavista 1277 piso -1 4100-130 Porto
W 8º 38' 19,6'' N 41º 9' 33,9''
www.gosho.pt
geral@gosho.pt
+351 226 086 708
Horário: Encerra ao domingo. Aberto das 12h às 15h e das 19h30 às 23h30 (01h de quinta a sábado)
Preço Médio: €30
Tipo de Cozinha: Asiática
Cartões: MB, VISA
Notas: Parque do Hotel Porto Palácio

Texto publicado originalmente no Lifestyle do diário OJE a 12 de Maio de 2010

quarta-feira, 28 de abril de 2010

No topo do topo - Restaurante Panorama do Sheraton Lisboa

OJE - Lifestyle - 2010.04.28

Cheguei à porta do hotel, entreguei as chaves do carro ao porteiro, dirigi-me ao elevador, carreguei no "R" e fiz uma viagem ultra-sónica até ao último andar do hotel Sheraton Lisboa.

Rendido à vista que este espaço oferece sobre a Capital, ainda tenho tempo para um aperitivo antes de passar para a sala de combate.

O bar está repleto de empresários e quadros que foram beber um último copo antes de voltarem para casa, ou quem sabe aventurar-se nos prazeres da mesa.

A cozinha está a cargo do Chefe Leonel Pereira, um criativo e irrequieto cozinheiro que só se contenta quando o impossível está desmascarado numa das suas apetitosas obras.

Sentado numa mesa em que, mais perto da janela e da cidade era impossível, deixo de pensar um pouco no exterior e foco-mo no interior.

As mesas espaçadas (oferecendo privacidade), os copos e pratos da Christoffle, os talheres de prata, fundiam-se na decoração discreta, no entanto com bom gosto.

É tempo de largar a prosaica e virar-me para a acção, pois já estão na mesa as ostras do rio Sado ao natural sobre espuma de funcho, ovas de Tobiko, gelado de maçã "granny smith" e bronoise de pepino. Um prato fresco, diria mesmo sensual, onde a bronoise reforça a fresquidão da ostra e as ovas são pequenas bombinhas de prazer que explodem lentamente na boca. Acompanhou-se o prato com um alvarinho Aveleda Follies.

Segue-se aquele que eu mais aguardava, "o coral": tiras de choco gigantes salteadas, amêijoas, percebes, algas frescas, salicórnias e minerais, a experiência é como dar um mergulho no fundo do mar num dia quente de Verão, e sair com todos os frescos e salgados aromas que este oferece. Troquei a opção de vinho por uma cerveja e estava a viver um dos meus melhores dias de praia sem sequer estar à beira mar.

A Gamba Encarnada do "Algarve" corada sobre umas falsas migas de broa com poejos, tomate e chaterelles rosa, acompanhou-se de um "Gold Cuvée", espumante ‘inot com folhas de ouro de 22 quilates, harmonia interessante, onde primeiro sobressaem as texturas das migas, depois os sabores exóticos dos cogumelos, terminando nas apelativas e tenras gambas.

Nacos do Lombo de Atum corado e Toro confitado em azeite, mousse de cebola e batatinhas salteadas com miolo de amêijoa, coentros e azeitona galega e um tinto do Paulo Laureano Premium. A textura de todo o prato é excelente, a cebolada, o alho e as batatas lembram um pouco o Algarve e convidam o atum a saltar para a grelha.
Um verdadeiro e fresco regalo gustativo.

Termino os quentes com: A nossa "Modesta Homenagem" ao cozido à portuguesa sobre um creme de nabo com lombardo e geleia natural das suas carnes.

Esqueçam os vinhos, esqueçam as lembranças negativas da infância e rendam-se ao creme de nabo, pois por mais que quisesse parar não conseguia. Foi sempre o primeiro a não ser escolhido quando era pequeno, mas aqui é algo que poderia comer à colher.

É um conceito inovador e uma visão diferente do cozido, talvez provocatório para os puristas, mas este eu poderia repetir dezenas de vezes e não sair enfartado. Parabéns Leonel.

Antes do café ainda houve tempo para: Sobre um aveludado de Porto "Rubi" bronoise de pêra rocha confitada, crocante de caril e gelado de fava tonka, bem preparado e arrojado, é uma harmonia de sabores e aromas.

Acompanhei este prato com um Porto Real Companhia Velha, que naturalmente se integrou ao prato, na minha próxima visita vou tentar com um Madeira.

Gosto muito de seguir as indicações dos chefes e sommiliers, e neste caso fui muito bem conduzido, mas por vezes também é bom divagar e procurar novas notas e mudar alguns tons no que para mim foi uma verdadeira sinfonia gustativa e criativa.

Suba bem alto até ao topo e deixe-se conduzir pelo chefe nesta viagem aos prazeres da gastronomia.

Detalhes
Restaurante Panorama
Sheraton Lisboa Hotel & Spa - Rua Latino Coelho 1 - 1069-025 Lisboa
W 9º 9' 4,9'' N 38º 43' 47,4''
www.sheraton.com/lisboa
sheraton.lisboa@sheraton.com
+351 213 120 708 / +351 213 120 000
Horário: Aberto todos os dias das 19h às 23h
Preço Médio: €70, Menu de degustação €52 (€72
com suplemento de bebidas)
Tipo de Cozinha: Contemporânea Portuguesa de Autor
Cartões: MB, VISA, MASTERCARD, AMEX, DINNERS
Notas: Valet Parking

Texto publicado originalmente no Lifestyle do diário OJE a 28 de Abril de 2010

quarta-feira, 31 de março de 2010

Sommer - comer para crer

OJE - Lifestyle - 2010.03.31

É um restaurante do qual guardo estima desde a minha primeira visita, onde voltei por mais do que uma vez e nunca me desiludiu.

Fui conhecer a nova carta, que sai possivelmente hoje ou talvez amanhã, e fiquei certo de que a qualidade não se esvaneceu, pelo contrário, amadureceu de forma criativa.

Entrar neste espaço é sempre uma lufada de bom gosto: a decoração é um pouco o rosto dos seus proprietários, bonita, apelativa e cheia de detalhes deliciosos. O laranja a predominar nas paredes, mesas e tecto, a contrastar com a
madeira da pala do tecto.

O aparador que divide a sala do bar e o nome do bar suspenso são alguns dos encantos, que descobrimos pelos recantos.

Mais séria, mas sempre com humor, é a cozinha do Chef Pedro Sommer Ribeiro. Por um lado, a técnica é fortemente respeitada, a criatividade é uma obrigatoriedade e o re
quinte da apresentação revela o seu lado contemporâneo.
Para começar, veio a surpresa do chefe: Cogumelos assados com doce de tomate, torresmos e um ovo escalfado - fez-me lembrar de uma forma divertida as idas aos jogos de futebol.

Boa combinação de texturas, um ligeiro sabor a torresmos, em boa harmonia com o doce de tomate. Um bom chuto de arranque.

De seguida serviram o Moscatel de Setúbal José Maria da Fonseca 2003 e uma Infusão de queijo cabra caramelizado - uma espécie de falso brullé de chèvre acompanhado com uma salada temperada com uma redução de balsâmico.

Boa combinação no prato, mas um pouco apático na cor e o moscatel talvez tenha sido pouco exagerado nesta harmonização.

No prato de peixe, precedido do Castelo d'Alba Reserva 2008 Branco Douro, serviram-se os filetes de peixe-galo com couscous de nozes, chalotas e cogumelos, um prato totalmente equilibrado.

Textura, sabor e aro
mas em harmonia. Um peixe bem confeccionado, rijo, sem estar seco, e as chalotas combinando muito bem com os pleurotes. O vinho estava ao mesmo nível e revelou-se um belo casamento.

Chegou o Ramos Pinto Collection 2007 Douro e a Picanha braseada com gratin de batata-doce e cogumelos salteados, uma carne tenra sem nervuras e muito bem temperada (só sal e pimenta, o resto cabe à qualidade do animal). Uma nota para o "jus" de alecrim e o ligeiro aroma a tomilho que, de forma subtil, enriqueciam o prato.

Termino com a Quinta da Lagoalva de Cima Late Harvest 2008 e o raviolli de ananás com recheio de mousse de maracujá e tiras de hortelã - uma sobremesa bem feita, sem ser demasiado doce, e que veio quebrar as gorduras anteriores.

Quanto à escolha vínica, apesar de interessante, acho que aqui trocava o Late Harvest para a infusão do queijo de cabra e serviria o moscatel com este raviolli. É uma opinião, mas fica lançada a sugestão.

De uma forma global, esta ementa revela que o Sommer não é um projecto adormecido e procura agradar os seus clientes com novos aromas e texturas, mantendo sempre o elevado padrão no serviço e simpatia.

A carta de vinhos continua a crescer e também esta revela um maior cuidado e uma maior preocupação na diversidade e, principalmente, em manter os preços a um nível muito aceitável.

Todos estes factores, aliados àqueles que não se podem descrever, tornam a visita ao Sommer uma experiência a repetir.

A cidade e a sua gastronomia só têm a ganhar, enquanto o Sommer por cá andar!

Para comentar este artigo ou sugerir temas contacte o autor por gourmet@live.com.pt.

Detalhes
Sommer Restaurante
Rua da Moeda, 1-K 1200-275 Lisboa
www.sommer.pt
reservas@sommer.pt
+351 226 169 255 / +351 910 785 558
Horário: Encerra aos domingos. Aberto de segunda
a sexta das 12h30 às 15h, segunda a quarta das
20h às 24h e quinta a sábado das 20h às 02h.
Preço Médio: Almoço: €12, jantar: €30
Tipo de Cozinha: Portuguesas de Autor
Cartões: MB, VISA, MASTERCARD
Notas: Estacionamento fácil ao jantar, médio ao almoço

Texto publicado originalmente no Lifestyle do diário OJE a 31 de Março de 2010

quarta-feira, 17 de março de 2010

A Mesa de Luís Américo

OJE - Lifestyle - 2010.03.17

Situado no quarto andar de um edifício nas costas da fundação Cupertino Miranda no Porto, a que outrora foi a casa do Miguel Castro Silva, mudou de nome e proprietário.

A Mesa é agora o restaurante do Luís Américo, beirão e chefe do Ano de 2004. Esteve nos últimos anos à frente da cozinha do Degusto em Matosinhos e agora abre-nos a porta no topo da Rua Dom Domingos Pinho Brandão.

À entrada do restaurante e logo à saída do elevador somos confrontados com um largo e espaçoso hall: à sua esquerda fica uma sala de espera e bar, para quem chegou cedo ou simplesmente para beber o café e Porto num novo e confortável ambiente; à sua direita há uma sala de jantar, espaçosa, decorada de forma sóbria e elegante, no imprimindo um ambiente convidativo e descontraído.

São quarenta lugares, onde as mesas a boa distancia permitem privacidade e conversas reservadas. Já sentado nas confortáveis cadeiras começo por depenicar umas viciantes tostas cortadas de forma fina e admirável, levadas ao forno com um pequeno fio de azeite. Recomendo!

A carta dá como opções quatro entradas frias e cinco quentes entre os €5 a €8, três massas e risottos, cinco peixes e cinco carnes entre os €11 a €19, uma selecção vasta de queijos €18, e termina com 6 doces e 9 gelados e parfaits de €5 a €6. Além destes pratos há um menu de crianças a €10. Ao almoço incluem ainda um menu executivo onde a nota ordem é rapidez com qualidade e bom preço.

Optei pelo menu de degustação de 8 pratos com o suplemento de vinhos.

Finalmente parei com as tostas e chegou o carpaccio de novilho com trufa, rúcola selvagem e lascas de parmesão, este com um molho de apanhador de trufa, está bem cortado e a combinação revela-se de grande qualidade. O vinho foi o Glen Carlou Chardonnay 2008.

Segue-se o pratos ex-líbris da casa: Tempura de morcela com mel e cebolada tradicional, a cebolada com laivos de maçã é boa, a tempura apesar de agradável tem uma polme um pouco espessa e dura.

As lulas recheadas com alheira sobre puré de cenoura, eram uma excelente combinação de texturas e sabores, sendo o puré de uma cenoura intensa e cheia de sabor.

O Lombo de bacalhau cozido em vácuo a baixa temperatura com puré de feijoada e crocante de caldo verde, foi uma surpresa excitante, pois além de se desfazer na boca, revelava pequenos sabores como os cominhos no feijão, a acidez no pesto de tomate e um bacalhau de uma qualidade muito superior.

Ainda nos quentes e principais degustei um intenso e saboroso cachaço de porco preto com favada de enchidos, acompanhado pelo Quinta dos Carvalhais Colheita 2007, o facto da preparação ser lenta durando 16h, torna o porco tenro e a gordura casa perfeitamente com a favada de enchidos. De realçar que este vinho ainda fez subir um pouco mais o alto nível desta confecção.

Já com um porto Niepoort de 1998 ma mesa, chega o fondant de abóbora com mousse de requeijão e amêndoas tostadas, gostei, mas era um pouco grande e tornou-se um pouco enjoativo depois da selecção de pratos, estava mesmo era a precisar de umas frutas.

Termino com as trufas de chocolate com sorvete de cenoura e baunilha e um LBV 2003 Oporto, simplesmente magnífico.

Parto desta casa com vontade de voltar, pois além da boa comida que descrevo, o serviço foi sempre prestável e agradável. Não quero de deixar de realçar o bonito serviço de pratos, talheres e copos da Chef & Sommelier, que também estes demonstram o cuidado e a excelência que se pretende imprimir neste agradável espaço.

Agora só me resta esperar pelos bons dias de sol, para poder usufruir da fantástica varanda com vista para a foz do Douro.

Termino com uma frase que ouvi recentemente e adapta-se que nem luva à comida do chefe Américo, “a bebida é para beber e a comida é para mastigar”.

Não deixe de se sentar à Mesa com o Luís Américo!

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Detalhes
Restaurante A Mesa
Rua Dom Domingos Pinho Brandão, 75 - 4º, 4150-280 Porto
www.amesa.pt

info@amesa.pt

+351
226 169 255
Horário: Aberto todos os dias das 12h30 às 15h e das 19h30 às 23h
Preço Médio: Carta: €40, menu degustação: €38, suplemento vinhos: €25

Tipo de Cozinha: Portuguesas de Autor
Cartões: MB, VISA
Notas: Estacionamento fácil

Texto publicado originalmente no Lifestyle do diário OJE a 17 de Março de 2010

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

A Bocca que preserva os sabores

OJE - Lifestyle - 2010.02.17

Abriu a 20 de Fevereiro de 2008, e rapidamente se destacou como um restaurante citadino com uma cozinha muito sofisticada e saborosa.

A sua arquitectura e decoração são um misto de cultura urbana, muito trendy, onde as cores branco e verde alface predominam, criando um espaço requintado e descontraído.

Um destaque especial para a grande janela da sala de jantar para a cozinha, onde podemos observar o trabalho dos cozinheiros, não só no manuseamento dos utensílios e produtos, como nas técnicas utilizadas. Outro destaque vai para a bonita vitrina garrafeira que separa o bar da entrada da sala de jantar.

A cozinha revela uma equipa coesa, comandada pelo talentoso chef Alexandre Silva que, depois de passar por locais como o Sofitel Lisboa, Bica do Sapato e Tivoli, estaciona os tachos e facas na Rodrigo da Fonseca, criando um estilo próprio com bases na cozinha tradicional portuguesa.
Pratos de ementas anteriores, como o polvo à lagareiro ou bacalhau à Brás, sobre o seu estilo e criatividade revelaram a sua aspiração de tornar a cozinha portuguesa mais interessante, tanto visualmente como na técnica.

O novo menu tem três entradas frias, quatro entradas quentes, duas massas e risottos, quatro peixes, cinco carnes e sete sobremesas. Escolhi o menu de degustação, que está disponível por 52€ (suplemento de vinhos 25€).

Iniciei assim a minha epopeia gastronómica no pato mudo, as chalotas e o ananás de S. Miguel, acompanhado de um espumante Campo Largo rosé - um delicioso e bem cortado carpaccio de pato mudo acompanhado de pequenos pedaços de chalotas, cebolinho, ananás salteado e uma redução de vinagre balsâmico, combinando a leveza da carne do pato com um pequeno travo doce, onde sobressai inicialmente o vinagrete, acabando na frescura do ananás.

Segue-se o primeiro prato quente: as vieiras, os legumes bebés e a citronela, que se acompanhou de um fantástico Quinta do Lagar Novo Viognier 2006. Este casamento perfeito resulta não só pelo rico aroma lançado na abertura do boião que transporta as vieiras e os legumes, como pelo caldo de carne e citronela. Realço também as algas wakame que foram cozinhadas num caldo de açúcar e malagueta, criando um toque picante muito sofisticado.

O peixe-galo, a cebola roxa e o aipo combinaram de forma elegante com o branco Herdade do Perdigão Antão Vaz 2006, um prato que se revelou interessante, de boa confecção, onde o sauté final dá uma textura graciosa ao filete.

Depois veio o vencedor da noite: o porco preto, a maçã reineta e a sopa da pedra, muito bem acompanhado pelo Soberana tinto 2004. Umas bochechas de porco preto estufadas em vinho tinto muito macias, revelando que o simples é eficaz; os grelos salteados com morcela, a maçã reineta e o molho fortificaram de forma harmonizada os sabores deste prato.

Terminei com o chocolate, a tangerina e a banana com o porto Quinta do Portal LBV, uma sobremesa muito interessante e eficaz, onde os sabores realçam-se uns aos outros e o porto revela novas facetas do chocolate e da mousse de tangerina, muito agradáveis e saborosos.

O serviço foi sempre eficaz, a um bom ritmo, mostrando que a equipa que lá trabalha é parte de um motor cheio de peças, mas bem oleado e preparado para grandes corridas.

Não posso deixar de destacar os mais de 150 rótulos da carta de vinhos, onde sensivelmente 90 estão disponíveis a copo, ideal para quem quer fazer experiências enogastronómicas.

Desde que abriu e até hoje nunca baixou os braços, mostrando que, para se manter a qualidade num restaurante, não basta apenas cozinhar bem, é preciso inovar e manter a excelência do serviço para estar sempre a surpreender.

Saber receber é, mais do que uma arte, uma atitude. E o Bocca combina as duas.

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Detalhes
Restaurante Bocca
Rua Rodrigo da Fonseca 87-D 1250-190 Lisboa
www.bocca.pt
reservas@bocca.pt
+351 213 808 383
+351 213 808 380
Horário: Aberto das 12h30 às 14h30 (sábados da 13h às 15h) e das 20h às 23h (sexta e sábado até às 24h)
Preço Médio: 40€ ao Almoço, 55€ Jantar
Encerra: Domingo, segunda e feriados.
Tipo de Cozinha: Autor
Cartões: MB, VISA, AMEX
Notas: Estacionamento próprio na garagem em frente.

Texto publicado originalmente no Lifestyle do diário OJE a 17 de Fevereiro de 2010

sábado, 30 de janeiro de 2010

Restaurante Largo de Miguel Castro Silva

O chef Miguel Castro Silva é uma verdadeira caixa de surpresas, diria mesmo um verdadeiro exemplo a seguir.

Agora podemos dizer que as malas estão mesmo desfeitas, roupa arrumada e mobília comprada, e agora é um habitante da cidade de Lisboa.

Melhor para os alfacinhas e pior para os tripeiros, que perderam um dos grandes talentos da cozinha.

O seu novo projecto chama-se Largo, abriu esta semana e é um espaço muito bonito e moderno decorado pelo Miguel Câncio Martins, mesmo à frente do Teatro de São Carlos.

As mesas espaçadas, as cadeiras confortáveis, a mistura da traça pombalina com os vários pormenores contemporâneos, e uns aquários que… bem, o espaço estão muito interessantes e precisa de ser visto com os seus próprios olhos.

A ementa é composta por 8 entradas, 2 sopas/cremes, 5 peixes e mariscos, 5 carnes e 9 sobremesas e frutas. Entradas: terrina de foie-gras com porto, molho cumberland (17€); creme de amêndoa com gema e broa trufada (7,5€); pratos principais: bacalhau 80º de cura portuguesa com migas de poejo e hortelã da ribeira (18€), suprema de pintada com castanhas, sultanas e pinhões (22,5€); sobremesas: pão-de-ló de chocolate com mousse de mascarpone ou gelados Santini (5,5€).

Certamente que farão as delicias de todos os comensais. A mim fizeram, gostei verdadeiramente deste espaço, pena que a carta de vinhos (ainda em construção) tem um conjunto reduzido e muito similar de opções, e talvez seja um pouco cara.

Mas a minha mais rude crítica vai para o facto de só servirem água holandesa - apesar de tudo prefiro a da torneira e lusa, do que a holandesa e cara, em que a mais valia é simplesmente uma garrafa bonita.

Outro facto importante e interessante é o menu executivo de almoço de segunda à sexta, que inclui sopa ou salada e prato de peixe ou carne por apenas 18€.

Em suma, Lisboa ganha aqui um espaço de alta gastronomia com uma decoração muito interessante.

Detalhes
Restaurante Largo
Rua Serpa Pinto 10A 1200-445 Lisboa
(Chiado - Largo São Carlos)
www.largo.pt
info@largo.pt
+351 213 477 225
Horário: Ainda não tenho essa informação mas sei que ao almoço e jantar durante a semana estão abertos.
Preço Médio s/ Bebidas: 20 € (Almoço) / 30€ (Jantar)
Encerra: Sábados ao almoço e domingo todo o dia
Tipo de Cozinha: Contemporânea de Autor
Cartões: Todos
Notas: Estacionamento difícil.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Do bar ao restaurante gastronómico

OJE - Lifestyle - 2010.01.20

É um dos espaços mais recentes do Porto e promete que desta é para ficar! Já foi bar, clube e até casa de petiscos, agora é um restaurante de cozinha muito tradicional, modernizando-se através da técnica e apresentação.

O chef que dá o nome à casa foi aprendiz dos reputados chefs Miguel Castro e Silva e Hélio Loureiro, no Porto, mais tarde integra a equipa do chef Aimée Barroyer em Lisboa.

Foi chefe de cozinha da Quinta da Romaneira onde recebe a distinção "Relais & Chateaux". E volta para a sua cidade natal onde abre o seu primeiro projecto a solo: Restaurante Pedro Lemos.
O espaço, dividido em três salas, tem a sua entrada por um hall. Este está decorado com vários elementos pretos e dourados, discretos e atraentes, e é nesta sala que vamos encontrar a exposição dos produtos da mercearia gourmet disponíveis para venda aos clientes.

Atravessando o hall, damos entrada na primeira sala de jantar. Este espaço está igualmente decorado em tons dourados e escuros, no entanto diferente do anterior, pois incluem-se as cadeiras confortáveis e mesas bem decoradas a ostentar uns bonitos copos da Schott.

A passagem para o segundo andar muda de tom, tonalidade e postura. Aqui os fumadores não são privados do seu prazer.

Saímos do dourado e focamos no azul. Um bar e mais uma dúzia de mesas, em que só a pintura muda, pois a ementa, pratos talheres e copos são os mesmos do andar de baixo.
A carta de vinhos está inteligentemente fornecida com vários néctares que fazem a harmonização de forma adequada com os vários pratos dos chefes.

A responsabilidade nesta área recai sobre o jovem escanção Eduardo Neto que elaborou uma selecção de oito espumantes, nove champagnes, 37 brancos, e 59 tintos. De realçar que praticamente todos os rótulos estão disponíveis também a copo.

A minha degustação começou com "...num fumeiro do serrim das barricas, Ravioli de borras de Porto com foie gras recheado, em consommé de Rabo de Boi mergulhado", prato extremamente bem cozinhado, mostrando grande equilíbrio entre as borras e o consommé e a massa do ravioli apresentou um al dente muito elegante.

Seguiu-se o "...deu o Bacalhau, no azeite lentamente cozinhado, o incontornável grão-de-bico, acelgas, broa de milho e sua dobradinha", novamente bem confeccionado onde o grão-de-bico se revelou num elemento bastante surpreendente.

"... o Leitão no sabor da tradição, a pele crocante, carne suculenta e laranjada nossa interpretação", estava simplesmente fantástico, revelando o cuidado do chef em elevar as matérias utilizadas a um patamar de excelência.

Dos Citrinos, em torta com mousse de mascarpone, pérolas de tapioca em infusão de toranja, não foi um dos meus favoritos da noite, no entanto revela uma boa capacidade criativa.

Já da sobremesa que finalizou a minha viagem aos sabores do Pedro Lemos, a opinião é totalmente diferente, pois a Fava Tonka, em créme burlée queimado, cremoso sorvete de cenouras tenras é simplesmente o fechar com chave de ouro.

A experiência deste chef, revela-se em todos os pratos onde a conjugação entre a maturidade, a criatividade e a irreverência tornam a cozinha do Pedro Lemos uma viagem aos sabores tradicionais portugueses com um twist de contemporaneidade.

Pedro Lemos - um nome e um restaurante que dificilmente vou esquecer.

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Detalhes:
Restaurante Pedro Lemos
Rua do Padre Luís Cabral, 974 4150-459 Porto
www.pedrolemos.net
geral@pedrolemos.net
+351 220 115 986
+351 914 094 523
Horário: Aberto de segunda das 20h às 00h e de terça a sábado das 12h30 às 19h e das 20h às 00h
Preço Médio: 35,00 €
Encerra: Segunda ao almoço e domingo todo o dia
Tipo de Cozinha: Portuguesa Contemporânea
Cartões: MB, VISA, AMEX

Texto publicado originalmente no Lifestyle do diário OJE a 20 de Janeiro de 2010

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Manifesto de Luís Baena

OJE - Lifestyle - 2010.01.06
Imagens Rui Santos

Abriu há um mês e já é referenciado por alguns bloguistas como um dos lugares mais interessantes de Lisboa. Na passada segunda-feira fui verificar com os meus próprios olhos e palato o que o Chef Luis Baena anda a fazer, agora a solo.

O espaço está originalmente decorado, relembrando um estilo pop art dos anos 60: o lettering usado e algum papel de parede têm semelhanças com os quadros de Andy Warhol, nomeadamente o Flowers de 1970 e o Marlyn Monroe de 1967, o primeiro substituído pelas criações gastronómicas de Baena e o segundo pelo retrato do Chef.

As mesas em vez de toalhas têm vinil e as paredes são decoradas por várias frases que fazem parte da vida deste cozinheiro. Outro detalhe delicioso são os candeeiros sobre o balcão do bar, também eles num estilo pop art.

O manifesto não é novidade, pois é assim que todos o conhecemos: cozinha irrequieta, vanguardista e criativa. A vontade de recriar-se e reinventar-se para exceder- -se a si próprio e demonstrar a sua paixão na criação.

As ementas são sempre diferentes, por isso a minha experiência poderá ser só minha e de alguns que por lá passaram a semana passada. Agora alguns ficaram e outros saíram e, claro, novos apareceram.

Há menus de degustação de cinco pratos que se iniciam nos 35€ (blowup), 48€ (vertigo) e 68€ (stairway to heaven). Este último é um desafio do chef, em tom de provocação, clamando: se não me conhece coloque-se nas minhas mãos e tenha coragem!

Caso queira ir pela carta, os preços variam entre os 10 a 15€ nas entradas, 18 a 25€ nos pratos principais, onde se incluem alguns vegetarianos e meia dúzia de sobremesas que variam entre os 9 e os 18€.

Ao almoço a carta é diferente, apresentando alguns petiscos como o pastel de massa tenra de galinha (3€), sushi de presunto de Barrancos (5€) com arroz de coentros ou de tomate (2,50€), migas de bacalhau de coentrada 12€ e a empada de cabrito (14€). Estes últimos têm meias doses de 6,5€ e 7,5€.

A minha experiência começou num Fricassé de cogumelos silvestres das Penhas Douradas e croûtons de curcuma. Não foi o meu favorito, visto que o sabor dos citrinos abafava um pouco os restantes ingredientes e a concha que substituía a tradicional colher não facilitava o trabalho. Mas mostra aqui um pouco da originalidade e o quebrar de barreiras a que este chefe se obriga.

A Gamba frita com caril manjericão e nage de wasabi estava boa, notava-se bem a qualidade dos ingredientes e a originalidade da sua confecção. A combinação da nage de wasabi com o manjericão foi uma agradável surpresa, pois dava um toque asiático e mediterrânico bastante original.

O Pregado com crosta de mostarda foi o ponto mais alto, muito bem preparado, com uma crosta divinal e uma quadratura de crostas coloridas (açafrão, beterraba, salsa e tomilho limão, tinto de choco) a criar uma cama, que além do aspecto visual fantástico, enriquecia a harmonia dos sabores.

O Culombo de novilho com molhos diferentes estava novamente num ponto muito alto de gastronomia. O rabo de boi desfazia-se, não obrigando quase a passagem da faca, e o lombo mal passado fizeram música dentro da minha boca.

A emulsão de alho francês com feijão verde era realmente diferente, inovadora e saborosa. Um pouco de caldo e uma batata gratinada acabavam a guarnição deste prato.

Terminei com o Triffle de bolacha Maria, molho de caramelo e praliné de amêndoa, que me pareceu um pouco mediano para o nível que até aqui se tinha instituído.
Este era o menu Vertigo € 48,00 + 2 copos de vinho 5€ + couvert 4€ + água 3€ e café 1,5 e paguei 61,50€.

Vou ter de voltar e provar outras criações, na certa interessantes e saborosas, mas essencialmente irreverentes.

Termino com uma frase que vi estampada na parede: "A culinária, como a língua, deve ser dinâmica", Mia Couto.

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Detalhes
Restaurante Manifesto
Largo de Santos, 9C 1200-808 Lisboa
www.restaurantemanifesto.com
Tel.: +351 213 963 419
Telm.: +351 911 715 880
Horário: Aberto das 12h00 às 15h00 e das 19h30
às 00h00
Preço Médio: 45,00 €
Encerra: Encerra aos domingos e feriados o dia todo e sábados ao almoço
Tipo de Cozinha: Criativa de Autor
Cartões: MB, VISA, AMEX
Notas: Estacionamento no parque Vitorino Nemésio.

Texto publicado originalmente no Lifestyle do diário OJE a 06 de Janeiro de 2010