Foi em 1419 que a ilha da Madeira foi descoberta pelo navegador João Gonçalves Zarco, que tinha instruções do Infante D. Henrique para patrulhar e explorar a costa oeste do continente Africano.
Ao chegar com a boa nova, e depois de persuadir D. Henrique, voltou para colonizar a ilha, tendo como uma das suas primeiras missões plantar cana-de-açúcar e vinhas.
As primeiras vinhas a serem plantadas foram as Gregas, que vieram da cidade de Candida (capital de Creta), mas mais tarde foram introduzidas as castas que predominam e têm as características perfeitas para as condições atmosféricas e composição dos solos da Madeira: Tinta Negra Mole, Sercial, Boal, Verdelho e a Malvasia.
Foi apenas no século XVII, quando o Rei de Portugal Filipe I ordenou que os navios com destino às várias colónias portuguesas se abastecessem de mantimentos e vinhos, e também porque os ingleses paravam muito nesta ilha para se abastecerem, que o vinho da Madeira se tornou famoso, sendo reconhecido e apreciado por toda Europa e América.
Aliás, reza a história que no dia 4 de Julho de 1776 se brindou à independência dos Estados Unidos com "um Madeira"! Nos dias de hoje, produzem-se mais de 3 400 000 litros, sendo a Madeira Wine Company responsável por mais de um terço da produção e por 40% dos vinhos de qualidade superior (Madeiras de 5 anos ou mais).
Foi formada em 1913, quando dois produtores, Welsh & Cunha and Henriques & Camara, se uniram para criar a Madeira Wine Association nos tempos de maior crise, de modo a reduzirem custos e partilharem a produção. Com os anos, a Blandy's, Leacock's, Miles Madeira, Cossart, Gordon & Co e outras uniram-se ao projecto e, mais tarde, mudaram o nome para Madeira Wine Company Lda. (MWC)
As parcerias não pararam por aí e, em 1989, os Symingtons (reconhecidos pelos seus vinhos do Porto como o Graham ou Dow) entraram na sociedade, trazendo um vasto conhecimento em produção e distribuição à MWC.
O seu enólogo actual, Francisco Albuquerque, desde que entrou na empresa, em 1990, já recebeu o galardão de melhor Winemaker For Fortified Wine pela International Wine Challenger (IWC) por três vezes (2006, 2007 e 2008), e o Len Evans Trophy também pela IWC em 2007, criando uma notoriedade e mediatismo sobre esta casa muito importante.
Vinhos da Blandys como o Malvasia 1985 (medalha de ouro 2010 pela IWC), Terrantez 1975, Bual 1964, ou da Cossart Gordon como o Malvasia de 15 anos, Verdelho Colheita 1995, ou o Barbeito Sercial Old Reserve 10 anos já ganharam o seu espaço na história ao receberem várias medalhas de ouro nas principais competições internacionais como a IWC, Internacional Wine and Spirit Competition e a Decanter.
Os vinhos da Madeira, apesar de já usarem as técnicas mais modernas de vinificação, respeitam sempre as tradições, sendo a fermentação feita em cubas de inox, mas a estufagem é feita ainda nos tradicionais tanques onde, durante três meses, os vinhos estão a temperaturas constantes de 45ºC. Curiosamente, esta técnica foi descoberta durante as viagens nos trópicos em que as barricas ficavam sujeitas a altas temperaturas constantes durante vários dias. E assim nasce a característica única nos madeiras!
Seria difícil definir qual o melhor, ou o melhor que alguma vez provei, mas há dois que ganharam um lugar de destaque: Blandys Bual 1977 e as suas notas de açúcar mascavado misturadas com a ameixa e baunilha e uma boca muito frutada, com fortes notas de nectarina e muito macio - verdadeiramente excelente.
Outro é o Cossart & Gordon Bual Vintage 1908 com um nariz muito compotado, na boca é um concerto fantástico com a interpretação de vários frutos revelando uma acidez incrível, sendo uma experiência única.
São séculos de tradição que urgem na perfeição!
The Old Blandy Wine Lodge
A loja e centro de provas no centro do Funchal é visitada por mais de 200 000 pessoas anualmente, onde, além de poderem visitar o museu da Blandy, que inclui um pouco da história do vinho e sua produção, tem também uma sala de degustação especial dedicada exclusivamente ao Madeira Frasqueira-Vintage. As visitas demoram sensivelmente 45 minutos, custam €5 e incluem uma prova de dois vinhos.
Fotografias de Recovering Protestant, Paul Mannix & Karel Vízner
Texto publicado originalmente no Lifestyle do diário OJE a 5 de Janeiro de 2011
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