segunda-feira, 19 de julho de 2010

A Assinatura do Henrique

Crítica restaurante: A Assinatura do Henrique
Por Vicente Themudo de Castro


Foi um local que, ainda não tinha aberto, e já havia grande zunzum nas redes sociais sobre o seu potencial.

O seu proprietário e chefe Henrique Mouro, diariamente e no facebook, publicava fotos da evolução das obras, respondia simpaticamente a todos os comentários e alimentava o apetite dos curiosos futuros comensais.

Será este o futuro da promoção gastronómica? Não sei, mas que funcionou, ninguém pode negar

Saltemos das redes sociais e abra-se a porta do 19, da rua do Vale Pereiro. Ultrapassada a antecâmara de vidro, entro num espaço bonito onde o encarnado sobressai e Lisboa está estampada em papel, na parede do fundo do restaurante.

Mesas confortáveis e convenientemente espaçadas, atoalhados, serviço de pratos, copos e alfaias bonitas, mostrando cuidado no detalhe.

A sala revela um pormenor curioso: com uma mesa totalmente preparada e arranjada, pendurada de pernas para o ar no tecto. Desta, ninguém se esquece.

Quanto ao chefe, já tive a oportunidade de provar as suas regionais criações no Club em Vila Franca de Xira, e fiquei fascinado pela sua irreverência e curiosidade nos produtos locais.

Já em Lisboa, Henrique promete muito rigor, chamando os produtos pelo nome e deixando as suas qualidades serem a estrela.

Das várias visitas que fiz, diurnas e nocturnas, pude apurar um pouco da ementa e mentalidade proposta à gastronomia praticada no Assinatura.

Foie-gras e risotto não constam; caracóis, moelas, sardinhas, choco, lavagante e outros da nossa costa e território, vai encontrar com fartura e qualidade. Não vou falar de uma refeição, mas um pouco dos pratos que tive a oportunidade de degustar.

Inicio-me no aveludado de galinha, favo de mel e amêndoa - muito suave, um regalo ao palato, em que o aveludado evolui para o doce do favo que é suavemente equilibrado pela amêndoa amarga. Este para mim é um vencedor, vamos ver até quando dura o favo!

Lula e tamboril com batatas e azeitonas - este foi um dos pratos que lhe conferiu o título de chefe do ano em 2001, percebendo-se porquê.

É uma combinação harmoniosa de elementos, o puré fantástico, o molho de caldeirada suave, nenhum dos elementos entra em conflito ou tenta sobressair de forma isolada. Na minha opinião, gostaria da lula ligeiramente mais cozinhada e o tamboril um pouco mais húmido, não sei se tecnicamente seria possível, mas fica a opinião.

O salmonete suado com berbigão, milho e gengibre é novamente a irreverência e a técnica sobre a faiança, talvez um dos melhores que provei nos últimos tempos.

Já nas carnes não posso deixar de falar da terrina fria de coelho, pão de azeitona e uma salada - o pão era um brioche delicioso e perfeito, que vem da padaria Quinoa, juntamente com o caldo do bicho e uma maionese fantástica, criando uma orquestra coordenada de sabores na boca.

Fico com a mais plena sensação de que este chefe veio trazer frescas e excelentes novidades à alta cozinha nacional. Penso que ainda está um pouco contido, apesar de correcto, criativo e muito apoiado na técnica, mas assim que sentir a confiança, cheira-me que vamos ter um novo puma da alta gastronomia lusa. E que falta fazem estes pumas na nossa cozinha!

Para comentar este artigo ou sugerir temas contacte o autor por gourmet@live.com.pt.

Detalhes:
Assinatura
Rua do Vale Pereiro, 19 1250-270 Lisboa
W 9º 9' 7'' N 38º 43' 14''
+351 213 867 696
Horário: Segunda a sexta das 12h30 às 15h, e terça a sábado das 19h30 às 22h30 (sexta e sábado até às 23h30).
Preço: Almoço 18€/24€, jantar €40
Tipo de Cozinha: Portuguesa de autor
Cartões: MB, Visa, Maestro, Mastercard, Dinners

Texto publicado originalmente no Lifestyle do diário OJE a 14 de Julho de 2010

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