Durante muitos anos, as Pousadas de Portugal eram locais de culto gastronómico, sendo reconhecidas nacional e internacionalmente como sítios bonitos e com uma boa mostra dos produtos regionais e seu receituário.
De uma forma surpreendente, a fama do bom passa para menos bom, e a reputação foi-se sem qualquer tipo de justificação. Na realidade, não conheço todas as Pousadas e não poderei corroborar ou contrariar as vozes, mas, recentemente, fui à Pousada de Amares visitar a cozinha do Convento.
É difícil não ficar rendido a este projecto do arquitecto Souto Moura, que transformou o esquecido e ruinoso Mosteiro Circense do século XII num bonito hotel cheio de charme e história.
Quando um projecto desta envergadura é acompanhado pelo bom gosto e bom senso, preservando os valores históricos do passado, está condenado ao sucesso. A sala de jantar, antigo refeitório do convento, só levou uma lavagem de cara, nova mobília, mantendo as paredes de pedra, criando um ambiente único e apaixonante.
Desloco-me para a minha mesa, junto a uma das duas lareiras, e sento-me debaixo da clarabóia que revela um céu muito estrelado.
Sem perder tempo, passo logo para os pratos e inicio a refeição com várias entradas, Tigela de Papas de Sarrabulho (€10) - todos os ingredientes em harmonia e uma textura fantástica fazem com que entre com chave de ouro; Carpaccio de polvo à lagareiro (€14,50) - apesar de achar que eram mais filetes do que carpaccio, o prato estava bom.
Nos principais, comecei com as gambas gigantes de Moçambique grelhadas com arroz basmati e salada de folhas verdes - nada a apontar.
A lampreia à bordaleza (depende da época) estava bem confeccionada, a carne do ciclóstomo estava com uma textura certíssima, dura sem estar seca, e o molho do guisado apurado, revelando a fresquidão dos produtos.
Arroz de galo pica no chão malandrinho(€18) - arroz bem cozinhado, um prato bastante apurado que não desiludiu. Terminei os principais provando ainda o arroz de cabrito "Mamão" no tachinho (€24) - carne tenra, bem confeccionada, revelando que, na cozinha, há alguém com uma mão excelente para a "arte do tacho".
A longa e antiga mesa de pedra no centro da sala estava cheia de doces conventuais e queijos, pelo que não resisti a provar quase todos, preterindo as sobremesas da carta, e não me arrependi.
A carta de vinhos, apesar de não ser muito extensa, tem várias opções para todos. Destaco as opções em verdes tintos que, segundo os puristas, é o melhor néctar para a lampreia, opinião que não partilho.
Serviço eficaz, rápido e atencioso, não havendo nada a apontar neste campo, fazendo deste, e dentro dos que visitei, o melhor e mais emblemático restaurante das Pousadas de Portugal.
Ver para crer e degustar para acreditar.
Detalhes
Restaurante da Pousada de Santa Maria do Bouro
Pousada de Amares
Santa Maria do Bouro Amares
Largo do Terreiro - 4720-688 Bouro
W 8º 16' 12,6'' N 41º 39' 34,3''
+351 253 371 970
www.pousadas.pt / recepcao.bouro@pousadas.pt
Horário: Aberto todos os dias das 13h00 às 15h30
e das 20h00 às 22h30
Preço médio: €35
Tipo de Cozinha: Regional tradicional
Cartões: Todos
Texto publicado originalmente no Lifestyle do diário OJE a 23 de Fevereiro de 2011
3 comentários:
OLá Vicente, não poderia estar + + de acordo contigo, A Pousada de Amares é sem duvida uma das melhores e a sua comida é mesmo a Melhor!!! Parabém para toda a equipa e Obviamente o seu Director que é um grande Profissional!!!
Abraços,
Leonel Pereira
Pois é Leonel,
Fui lá nos últimos tempos duas vezes e em ambas comi superiormente.
Apesar de já não estares lá faz tempo, nota-se ainda a tua influencia na apresentação dos pratos.
O Rolim é o maior, trata a casa, como se fosse a dele, e tenho a certeza que em casa dele como-se muito bem!
Abraço
V
Amei este lugar,bela aquitetura,ambiente aconchegante e a cozinha..me deixou de agua na boca.
Na proxima viagem pretendo conhecer!!
Abraço
Jacinta Pinheiro
Brasil.
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