quarta-feira, 27 de julho de 2011

Um segredo a desvendar

Foi em 1999, há precisamente uma dúzia de anos, que a dupla Guy Doré e Joaquim Vilela abriu a porta do sonho já há muito tempo idealizado: O Pequeno Mundo.

Amigos e parceiros de trabalho de longa data decidiram arriscar num restaurante seu e, desde o primeiro cliente até aos que saíram de lá ontem, houve sempre algo em comum: a satisfação de um momento bem passado e uma refeição de proporções épicas.

Nunca escrevi sobre este local com medo de me tornar parcial, pois nunca aqui tomei uma má refeição, mas, com o passar dos tempos, e ouvindo os elogios de quem foi ao Pequeno Mundo, percebi que é tempo de alertar para a existência deste local e descrever a minha última (mas a repetir) refeição.

Atravessar os portões que separam a casa e o estacionamento do mundo é, por si só, uma experiência, pois as longas e coloridas buganvílias, as alfarrobeiras e outras plantas e árvores escondem surpresas de encantar.

O primeiro a aparecer é o pátio, as mesas e cadeiras de palha debaixo do céu estrelado e o simpático Joaquim Vilela, que nos dá as boas vindas e simpaticamente nos encaminha à mesa.

As salas, nobremente decoradas, separam-se da principal, discreta e mais escolhida nos dias de Inverno, a da lareira com um longo banco, ideal para uma bebida quente nos dias frios, mas, atravessando esta e o bar, temos novamente uma esplanada, onde a companhia das alfarrobas e buganvílias mantêm-se, e aqui é um champagne, gin ou imperial que fazem as honras nos dias de calor.

Por aqui bebo um copo, antes de atravessar todas as salas, para voltar à esplanada inicial, na companhia da noite, da fonte e da minha família.

Chegam as entradas e temos direito a umas tostas de brioche e uma pequena terrina de foie, pães da casa e uma manteiga juntaram-se a estes, mas só mesmo para enfeitar, pois a terrina estava soberba.

Fui para a sugestão do dia - o folhado de foie gras com vinho da Madeira. Parece excessivo pedir "dois do mesmo", mas a realidade é que o primeiro era de galinha e o seguinte de pato. Folhado estaladiço e com a gordura a aguentar-se bem à do fígado, e o adocicado bem como a acidez do molho a enaltecerem e equilibrarem as gorduras.

Ainda houve tempo para dar uma dentada no estaladiço de camarão, salada e molho de iogurte, que nunca desilude e tem sempre algo da estação - neste caso, foram uns maduríssimos figos.

No principal, partilhámos a sugestão do dia, era uma dose para dois: Pato lacado e assado com batatas fritas, salada, legumes e um molho de carne e vinho simplesmente fantástico.

O ponto da carne exactamente como foi pedido, e tudo funcionava. Parcial? Talvez, mas não vi nenhuma das mesas a privar-se dos elogios.

Com tanta fartura, não consegui arriscar numa sobremesa. No entanto, o chefe enviou um pré-desert, um crumble com panacota e fruta de Verão, que também cumpriu o seu papel de excelência.

Boa carta de vinhos, uma sommelier que sabe o que diz, um serviço de sala sempre atento e simpático, boa cozinha e disposição é tudo aquilo de que um restaurante precisa, nada mais!

Fico espantado sempre que lá vou porque, tirando as pessoas que ali trabalham, só mesmo eu e as minhas companhias é que falam português. Será este um segredo escondido dos portugueses? Ou simplesmente não têm conhecimento?

Fica aqui o relato de, provavelmente, um dos mais fantásticos restaurantes de cozinha francesa simples e saborosa, onde a paixão por servir aparece em cada prato do chefe Guy Doré.

Detalhes

Restaurante Pequeno Mundo
Caminho de Pereiras
8135-022 Almancil - Pereiras
N 37.09096º, W 8.03090º
+351 289 399 866
www.restaurantepequenomundo.com / info@restaurantepequenomundo.com
Horário: Encerra aos domingos. Aberto das 19h00
às 22h00 (das 19h30 às 22h00 no Verão)
Preço médio: €60
Tipo de Cozinha: Francesa
Cartões: Todos

Texto publicado originalmente no Lifestyle do diário OJE a 27 de Julho de 2011

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