Cada dia que passa, o "movimento" biológico ganha mais adeptos.
Coloquei os parêntesis porque não é nada organizado - as pessoas têm cada vez mais preocupações, usando a palavra biológico como mote.
Há quem defenda que a redução de processos químicos faz, paralelamente, com que os produtos tenham um sabor mais orgânico (menos químico) e, ao mesmo tempo, não destrói de forma agressiva os solos e os terrenos onde são cultivados e produzidos.
Na minha opinião, há ainda muitos mais factores a acrescentar a esta reduzida lista, mas o principal é fundamentar o equilíbrio entre o homem e a natureza, e reduzir a influência nociva dos processos químicos no meio ambiente.
Uma das empresas que faz deste movimento um porta-estandarte é a Casa Agrícola Reboredo Madeira (CARM). Há muito tempo que esta empresa familiar, situada no Alto Douro vinhateiro, fez com que os seus 130 hectares(ha) de vinha, 220ha de olival e 60ha de amendoais estejam em modo biológico, ajudando a preservar de forma sustentável a fauna e a flora.
Animais em extinção como a águia-real, a águia pesqueira, o grifo e a perdiz selvagem, ou plantas como a esteva, zimbro, funcho, rosmaninho, azedas e muitas outras são avessas ao processo químico e, não sustentando este, as plantas florescem, os animais ficam e o Douro ganha em diversidade.
Nos lagares, que, segundo a história, já produzem desde o século XVII, houve inovações, tendo sido construída uma nova unidade de produção, mas mantendo as tradições. Foi em 1999 que edificaram o novo lagar, com a particularidade de manterem o moinho de pedra tradicional, fazendo com que o processo de moer a azeitona seja de um modo mais natural e suave.
Os rótulos variam entre os CARM (Clássico, Grande Escolha e Premium), os da Quinta das Marvalhas e o da Quinta do Bispado. Mudam as marcas e os rótulos, mas a qualidade é sempre assumida, fazendo mesmo parte dos melhores azeites do mundo, e a corroborá-lo estão as várias medalhas de ouro e os centos de menções que os vários especialistas nacionais e estrangeiros lhe atribuíram.
Nos vinhos, também foram pioneiros e não se contentaram em ser biológicos no campo, criando o rótulo SO2, um vinho tinto da casta Touriga Nacional sem qualquer adição de enxofres. Este químico, dióxido de enxofre (vulgo sulfuroso), é quase sempre usado pelos produtores na vinificação pela suas propriedades anti-oxidantes ou de desinfectante, daí ser comum ver impresso nos rótulos "contém sulfitos".
Assim, o CARM Touriga Nacional SO2 é um caso de sucesso recente, mas ainda com alguns descrentes, principalmente no que toca a longevidade. No entanto, o certo é que, ainda há poucos dias, abri uma garrafa de 2009 e estava excelente.
Da sua prova, destaco o nariz muito aromático, onde as cerejas são as primeiras a aparecer, mas que depois evolui para fruta mais maturada, e na boca é fresco e guloso com notas de morangos, chocolate e especiaria e com um final persistente, longo e muito interessante, pois a fruta perdura num sabor muito orgânico.
Se a família Reboredo Madeira consegue viver em harmonia e sustentabilidade com o ambiente, em harmonia e sustentabilidade na gestão, é porque o modo biológico funciona, é rentável e, principalmente, é amigo do nosso ambiente.
Texto publicado originalmente no Lifestyle do diário OJE a 25 de Julho de 2011
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