OJE - Lifestyle - 2010.04.19
A importância dos guias e roteiros, sejam eles de gastronomia, hotéis e viagens, é cada vez maior, certo que os há para todos os gostos, feitios e carteiras, uns mais populares que outros.
Mas há algo que caracteriza verdadeiramente um guia: ser uma máquina de sonhos. Há um que todos os anos provoca calafrios aos chefes, surpresas aos leitores, mas principalmente cria o sonho.
Estou a falar do guia Michelin e das suas estrelas.
Certo que, quando os chefes não as têm, diz-se frequentemente que não é importante, mas depois de ganharem uma, a opinião muda.
Pois, além de ser uma forma de reconhecimento internacional, é um importante factor económico.
Quando ninguém conhece a cidade e os seus restaurantes, este é o mais popular entre os bons garfos e, em Portugal, já há vários por onde escolher.
Começando de norte para sul, vamos encontrar o restaurante Largo do Paço na Casa da Calçada em Amarante, um lugar fantástico onde, escondido entre jardins e fontes, vamos encontrar uma casa e um restaurante que, apesar de recentemente ter perdido o seu chefe, continua a servir uma ementa de luxo e de uma qualidade superior.
Curioso o facto de esta casa ter alcançado recentemente a estrela que tinha perdido após a partida do chefe Cordeiro.
Descendo um pouco mais e chegando a Coimbra, entrando na Quinta das Lágrimas, somos logo cativados por um espaço que guarda a história de Pedro e Inês. Aqui, apesar de também já ter feito história, ainda tem muitas linhas para acrescentar no que diz respeito ao capítulo da gastronomia. Falo do modesto e talentoso chefe Albano Lourenço que, no restaurante Arcadas, continua a criar a sua cozinha de mercado de autor.
Agora, para descobrir a próxima estrela, temos de descer a A1 em direcção à capital onde vamos encontrar uma das mais recentes entradas no grupo dos galardoados que, curiosamente, é o restaurante mais antigo de Portugal e um dos mais antigos do mundo. A chefiar a cozinha está uma das nossas grandes promessas gastronómicas lusas. Jovem e cheio de garra, o Chefe José Avillez já tem fama internacional.
No Tavares, Avillez faz uma cozinha única onde mistura os seus conhecimentos técnicos, adquiridos pricipalmente pelo grande mestre Ferran Adrià, fundindo com os produtos e sabores lusos.
Ainda em Lisboa podemos encontrar, no topo do Parque Eduardo VII, o esplendoroso Eleven, oferecendo aos seus visitantes uma panorâmica de Lisboa e do Tejo verdadeiramente única e deslumbrante.
No comando da gastronomia praticada nesta casa está o austríaco Joachim Koerper que, depois de passar por várias casas de renome internacional, uma das quais chegou mesmo a obter duas estrelas em Valência, assenta arraiais em Portugal, e ainda bem para os amantes da boa cozinha internacional e mediterrânica de autor.
De volta à estrada, e agora em direcção àquela que é a região que concentra mais estrelas no nosso país, chegamos ao Algarve e às seis estrelas distribuídas por cinco restaurantes.
Começando por aquele que reúne mais dos famosos "macarrons", situado na Guia - Albufeira está um dos mais fantásticos hotéis e restaurantes de Portugal: o Vila Joya. Debruçado sobre o mar, a varanda do restaurante só tem um fiel competidor na sua estrondosa vista quando vê chegar as magníficas e criativas produções culinárias do Chef Dieter Koschina.
Mesmo perto, já em Alporchinhos - Porches, podemos encontrar novamente uma das mais recentes estrelas, o restaurante The Ocean, também este virado para o mar, com uma vista fantástica e uma decoração de muito bom gosto. Aqui a cozinha volta a ser comandada por um jovem, mas cheio de talento e noção de espectáculo, o chefe Hans Neuner. Os seus menus de degustação são, mais do que uma viagem aos sabores, uma viagem às várias regiões de Portugal, de onde vêm os únicos produtos com que este chefe trabalha.
Já chegando a Vilamoura, um pouco mais escondido, perto do golfe do pinhal, está um homem que não só ostenta uma estrela, como foi o primeiro chefe a ser estrelado no Algarve, o alemão Willie Wurger.
Decorado de forma discreta e com uma esplanada rodeada de pinheiros, este local dá-lhe sempre a garantia de uma excelente refeição. Uma cozinha tradicional, mas muito consistente.
Já em Almansil, as estrelas são três.
Do Maranhão, veio para Portugal abrir uma casa com o seu nome, Henrique Leis, e não foi preciso muito tempo para os inspectores da Michelin atribuírem-lhe a estrela.
A sua cozinha criativa e exótica faz as delícias dos visitantes e o charme do local ocupa-se do resto das boas-vindas.
O Amadeus, sob a tutela do chefe Siegfried Danler-Heinemann, ostenta orgulhosamente a sua estrela desde 2006.
Um restaurante dentro de uma pequena "Vila", com uma entrada muito florida e acolhedora, uma sala confortável e uma esplanada que fazem o Verão parecer melhor, e depois vêm as suas criações únicas e ricas na imaginação e paladar.
Mesmo perto ainda vamos encontrar o São Gabriel que, apesar de ter perdido o seu chefe, não perdeu a estrela e, graças ao seu novo chefe Torsten Schulz, manteve o galardão, recriando uma cozinha de valores mais simples, mas de grande complexidade técnica.
Saindo do continente, no Funchal vamos encontrar o francês Benoit Sinthon que, de forma soberba, chefia a cozinha do Il Gallo D'Oro, integrado dentro do belíssimo hotel The Cliff Bay.
Apesar do nome aparentar um estilo de cozinha italiano, aqui os sabores são internacionais, com uma forte componente mediterrânica, espantando em cada criação que é exposta à mesa.
Por enquanto, são onze as estrelas mas, viajando pelo nosso país e vendo o que de bom se tem feito, os senhores do guia vermelho vão ter de comprar um pack de viagens para Portugal, pois este é um destino a degustar!
Texto publicado originalmente no Lifestyle do diário OJE a 19 de Abril de 2010
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