quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

A Bocca que preserva os sabores

OJE - Lifestyle - 2010.02.17

Abriu a 20 de Fevereiro de 2008, e rapidamente se destacou como um restaurante citadino com uma cozinha muito sofisticada e saborosa.

A sua arquitectura e decoração são um misto de cultura urbana, muito trendy, onde as cores branco e verde alface predominam, criando um espaço requintado e descontraído.

Um destaque especial para a grande janela da sala de jantar para a cozinha, onde podemos observar o trabalho dos cozinheiros, não só no manuseamento dos utensílios e produtos, como nas técnicas utilizadas. Outro destaque vai para a bonita vitrina garrafeira que separa o bar da entrada da sala de jantar.

A cozinha revela uma equipa coesa, comandada pelo talentoso chef Alexandre Silva que, depois de passar por locais como o Sofitel Lisboa, Bica do Sapato e Tivoli, estaciona os tachos e facas na Rodrigo da Fonseca, criando um estilo próprio com bases na cozinha tradicional portuguesa.
Pratos de ementas anteriores, como o polvo à lagareiro ou bacalhau à Brás, sobre o seu estilo e criatividade revelaram a sua aspiração de tornar a cozinha portuguesa mais interessante, tanto visualmente como na técnica.

O novo menu tem três entradas frias, quatro entradas quentes, duas massas e risottos, quatro peixes, cinco carnes e sete sobremesas. Escolhi o menu de degustação, que está disponível por 52€ (suplemento de vinhos 25€).

Iniciei assim a minha epopeia gastronómica no pato mudo, as chalotas e o ananás de S. Miguel, acompanhado de um espumante Campo Largo rosé - um delicioso e bem cortado carpaccio de pato mudo acompanhado de pequenos pedaços de chalotas, cebolinho, ananás salteado e uma redução de vinagre balsâmico, combinando a leveza da carne do pato com um pequeno travo doce, onde sobressai inicialmente o vinagrete, acabando na frescura do ananás.

Segue-se o primeiro prato quente: as vieiras, os legumes bebés e a citronela, que se acompanhou de um fantástico Quinta do Lagar Novo Viognier 2006. Este casamento perfeito resulta não só pelo rico aroma lançado na abertura do boião que transporta as vieiras e os legumes, como pelo caldo de carne e citronela. Realço também as algas wakame que foram cozinhadas num caldo de açúcar e malagueta, criando um toque picante muito sofisticado.

O peixe-galo, a cebola roxa e o aipo combinaram de forma elegante com o branco Herdade do Perdigão Antão Vaz 2006, um prato que se revelou interessante, de boa confecção, onde o sauté final dá uma textura graciosa ao filete.

Depois veio o vencedor da noite: o porco preto, a maçã reineta e a sopa da pedra, muito bem acompanhado pelo Soberana tinto 2004. Umas bochechas de porco preto estufadas em vinho tinto muito macias, revelando que o simples é eficaz; os grelos salteados com morcela, a maçã reineta e o molho fortificaram de forma harmonizada os sabores deste prato.

Terminei com o chocolate, a tangerina e a banana com o porto Quinta do Portal LBV, uma sobremesa muito interessante e eficaz, onde os sabores realçam-se uns aos outros e o porto revela novas facetas do chocolate e da mousse de tangerina, muito agradáveis e saborosos.

O serviço foi sempre eficaz, a um bom ritmo, mostrando que a equipa que lá trabalha é parte de um motor cheio de peças, mas bem oleado e preparado para grandes corridas.

Não posso deixar de destacar os mais de 150 rótulos da carta de vinhos, onde sensivelmente 90 estão disponíveis a copo, ideal para quem quer fazer experiências enogastronómicas.

Desde que abriu e até hoje nunca baixou os braços, mostrando que, para se manter a qualidade num restaurante, não basta apenas cozinhar bem, é preciso inovar e manter a excelência do serviço para estar sempre a surpreender.

Saber receber é, mais do que uma arte, uma atitude. E o Bocca combina as duas.

Para comentar este artigo ou sugerir temas contacte o autor por gourmet@live.com.pt.

Detalhes
Restaurante Bocca
Rua Rodrigo da Fonseca 87-D 1250-190 Lisboa
www.bocca.pt
reservas@bocca.pt
+351 213 808 383
+351 213 808 380
Horário: Aberto das 12h30 às 14h30 (sábados da 13h às 15h) e das 20h às 23h (sexta e sábado até às 24h)
Preço Médio: 40€ ao Almoço, 55€ Jantar
Encerra: Domingo, segunda e feriados.
Tipo de Cozinha: Autor
Cartões: MB, VISA, AMEX
Notas: Estacionamento próprio na garagem em frente.

Texto publicado originalmente no Lifestyle do diário OJE a 17 de Fevereiro de 2010

1 comentário:

Diogo Marques disse...

O Bocca é dos meus restaurantes preferidos de sempre. Tudo foi perfeito, desde o ambiente, a comida, o atendimento...5 estrelas. Dos poucos que não me custou nada pagar a conta, que infelizmente nunca é pequena.