Uma das coisas que mais me impressiona em termos gastronómicos no Algarve é que nos 365 dias do ano, só tem praticamente noventa em que os restaurantes podem dizer que, efectivamente, trabalharam em full-time, ou mesmo em overbooking.
Contratam-se mais empregados de sala, reforça-se a brigada de cozinha, as ementas e as cartas de vinhos são renovadas, e apesar de muito trabalho o sorriso aumenta.
O problema é que, retirando o Verão e alguns fins-de-semana esporádicos, esta região sofre com a falta de clientela, e é aqui que se distinguem os bons dos maus: o profissionalismo no atendimento, a qualidade dos produtos e o rigor na confecção ficam muitas vezes abaixo do medíocre.
Eu, infelizmente, este ano tive várias decepções nesta região, mas eis senão quando aparece a razão pela qual nunca devemos desistir, aliás até devemos insistir.
Foi em Sagres, mais precisamente na praia do Martinhal, concelho de Vila do Bispo, que o deslumbre sucedeu.
Ainda não fez um ano de idade, e já fala como gente grande - falo do Restaurante O Terraço, integrado no Martinhal Beach Resort.
A entrada é através do Hotel, sendo necessário "visitar" as várias vilas e residências de extremo bom gosto que separam a entrada do resort da entrada deste.
A sala, que se encontra no piso superior, não tem separações físicas, mas divide-se em dois espaços - o Lounge (bar) e o Terraço (restaurante), sempre acompanhada pela extensa e muito apetecível varanda que se estende por todo o comprimento.
As mesas aprumadas já estavam postas com o serviço da Cutipol, separado pelo guardanapo de pano a contrastar com os copos da Schott.
A carta está dividida em várias opções: entre entradas, carnes, peixes e sobremesas, tem uma opção de degustação a €49 que, naturalmente numa primeira visita, é sempre a melhor decisão.
De pronto, o pão e um pires de azeite chegaram, seguindo-se o espumante rosé da Murganheira e o amouse bouche: terrina de frango e espuma de couve-flor, bem executado, mas sem grandes apontamentos.
A entrada é um caso mais sério: Ovas de Ouriço-do-mar com ovos mexidos, azeite trufado e palitos de pão de Vila do Bispo torrado.
As ovas de ouriço, ou caviar como frequentemente é chamado, estavam num grande rigor técnico onde as texturas, aromas e sabores percorriam as minhas papilas gustativas que nem dois graciosos dançarinos a dançar a valsa em Viena.
Muda-se o néctar para o Barranco Longo Grande Escolha Branco, um pouco quente para o meu gosto, mas ficou o apontamento para a correcção.
Os raviolis de camarão tigre em caldo de tomate e gengibre vieram no seguimento.
Gostei, apesar de achar que a dose de gengibre poderia ser um pouco mais controlada. Excelente foi a harmonização entre a acidez do vinho com o caldo de tomate.
Um shot de sorbet de limão com champagne Veuve Clicquot e sumo de romã e trocam-se os copos para dar espaço ao Quinta de La Rosa Reserva.
No meio de um aroma intenso mas agradável de tomilho em brasa (que é ateado na cozinha e vem para a sala já em fumo que nem pau de incenso, e não passa despercebido a ninguém, pois o aroma encarrega-se de anunciar a sua chegada), aparece o lombo de vaca sobre uma cama de rabo de boi, seu caldo acompanhado com batatas salteadas e uma salada.
A carne estava bem temperada e marcada, e descansou o tempo suficiente para não fazer um mar de sangue à mesa.
A combinação com o rabo de boi era provocatória e muito interessante, combinando-se de forma agradável dois elementos completamente distintos da vaca.
Fiquei ainda mais feliz quando chegou até mim um prato de queijo ligeiramente fundido, acompanhado de um "cocote" com alperce, figos secos e avelãs: no prato o queijo assentava junto de umas folhas de rúcula e pinhões.
Por vezes não é necessário complicar e devemos deixar enaltecer os bons produtos, pois eles são as principais estrelas da cozinha.
Termino com um simples e discreto brulée que não choca, mas não espanta.
O ponto muito positivo foi a carta de vinhos, exclusivamente com referências portuguesas (excluindo os champanhes), e a preços muito acessíveis.
O serviço foi sempre exemplar, a simpatia extrema e sempre com vontade de servir e agradar sem parecer que lá estão - cada vez gosto mais de um serviço invisível mas eficaz.
Este é um dos sítios onde, apesar de ter feito apenas duas refeições, fiquei com a nítida sensação de que há solidez e coerência na equipa.
Agora resta-me esperar pela nova carta.
O Algarve ganha mais credibilidade em ter espaços como este!
Detalhes
Restaurante O Terraço
Martinhal Beach Resort & Hotel
8650-908 Sagres
W 8º 55' 34'' N 37º 1' 13''
+351 282 240 200
www.martinhal.com / info@martinhal.com
Horário: Aberto todos os dias ao jantar das 19h30 às 22h30.
Preço médio: €35 sem bebidas
Tipo de Cozinha: Autor
Cartões: Todos
Texto publicado originalmente no Lifestyle do diário OJE a 15 de Dezembro de 2010
1 comentário:
Parabéns pelo seu espaço!Gostei muitissimo deste post do restaurante do resort em SAGRES!AMEI O "ACREDITAR NO ALGARVE"! Eutambém ACREDITO NO ALGARVE.
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