segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Ainda sobre as estrelas Michelin…

Estive uns dias fora e tive tempo de pensar melhor em todo este espectáculo triste que é a atribuição de estrelas Michelin! Já passou o tempo em que olhávamos para o guia vermelho e tínhamos a certeza de que os que por lá vinham distinguidos eram os melhores entre os melhores, se faltava algum era porque ainda não tinha sido visitado – um azar!
Outro ponto que era sempre certo era que, como os inspectores são todos espanhóis, havia sempre uma maior tendência a distinguir os restaurantes dos nuestros hermanos preterindo os nossos.
Nos últimos anos tenho assistido ainda a um decréscimo maior em relação à nossa alta gastronomia vista pelos olhos dos tais inspectores – sendo os pontos de cocção um dos temas mais controversos! 
Lá porque do outro lado da fronteira gostam de comer o peixe cru, num estilo muito estranho de sashimi, não quer dizer que aqui também se coma da mesma forma. Aliás, só mesmo em Espanha é que se aceita alguns pontos de cocção, seja em que alimentos for, e acha-se o máximo. 
Nós e o mundo gostamos dos nossos pontos de outra forma e lá porque esteja na moda comer quase cru muitas das proteínas, não quer dizer que seja sempre agradável.
Este ano o guia conseguiu a proeza de acertar em cheio em algumas das estrelas, falhar redondamente naqueles que mereciam e catastroficamente em alguns que mantiveram.
Começo pelas injustiças: se a terceira estrela para o Vila Joya e a segunda para o Fortaleza do Guincho já são merecidas, a estrela que ainda não foi dada ao Panorama do Sheraton Lisboa e ao chefe Leonel Pereira é perfeitamente absurda!
Será que estes senhores têm alguma coisa contra este talentoso chefe? Não há justificação para não distinguir um dos mais talentosos chefes lusos da actualidade.
Tenho de dar os parabéns ao Guia porque deu uma estrela ao Feitoria e uma nova ao Ocean, passando assim para duas!
Outra situação que não se percebe é a manutenção das estrelas do Tavares em Lisboa e do Willies em Vilamoura. O Tavares baixou o standard, criando menus económicos, o que não abona em seu favor, e depois mudou de chefe e de rumo – quem ganhou a estrela foi a criatividade do chefe José Avillez e não o conservadorismo do francês Aimé Barroyer, que apesar de todo o seu mérito como grande mentor de muitos chefes da nossa praça, não há razão para manter a estrela. 
Depois o Willies, esse leva-nos a pensar se os inspectores vão mesmo lá! Além de uma cozinha que me agrada e não me desaponta, não me deslumbra certamente, e para rematar a negatividade, o serviço de sala é tão medíocre que não me leva a perceber a escolha neste espaço. 
Posso apontar vários no Algarve que fariam o guia ter muito mais credibilidade, como o Pequeno Mundo em Almancil, o Vistas em Cacela Velha, Ou o Emo em Vilamoura – francamente não consigo perceber.
O São Gabriel apesar de mudar de chefe como quem muda de carta, tem mantido o alto padrão de gastronomia, e apesar de por vezes manter a porta fechada por muito tempo, quando a abre, fá-lo em estilo!
Depois a novidade, uma estrela para o Yeatman, pouco mais de um ano de trabalho e já dá direito a estrela, se é merecida? Isso nem contesto, porque o trabalho do chefe Ricardo Costa já é conhecido e reconhecido pelos inspectores, mas se 14 meses de vida são suficientes para não terem dúvidas, porque será que alguns com mais de 36 meses de excelência não o merecem? Qual será o critério?
Vou dar o benefício de mais um ano ao guia Portugal & Espanha da Michelin, se para o ano não assistir a justeza e honestidade, banirei a menção ao guia vermelho em todos os meus escritos a partir dessa data. Haja honestidade e, acima de tudo, integridade. 
As pessoas não são estúpidas.

6 comentários:

João Maia disse...

A pessoa que escreve esta espécie de artigo, demonstra uma ignorância absoluta sobre os critérios de escolha e parâmetros de avaliação do Guia Michelin.

Infelizmente em Portugal existem muitos pseudo intelectuais como o autor deste "whatever you call it".

Queria aqui deixar os meus parabéns a todos os estrelados, aos novos e aos repetentes, e deixar uma palavra aos que ambicionam ser: lutem! E não se esqueçam que não serve RIGOROSAMENTE ter uma excelente cozinha se o serviço de sala não corresponde. A estrela é atribuída ao conjunto!

Parabéns à gastronomia em Portugal!

Felicidades

EuSouGourmet disse...

Caro João Maia,
Não sei qual o motivo da sua indignação, mas caso acha que esteja errado então não percebo porque é que o sr. Fernando Rubiato (responsável do guia para Portugal e Espanha) deu essas indicações na sua apresentação de Abril de 2011 no Pateo da Galé.
Caso acha que estou errado poderei passar essa mesma apresentação, onde ele fala desses mesmos temas.
Penso que a maior ignorância é daquele que fecha os olhos à realidade, e sei bem quais são os critérios, foram todos apresentados e discutidos nesse mesmo dia.
O Sr. Capel, critico gastronómico de elevada reputação, responsável pelo Madrid Fusion partilha do mesmo descontentamento e desconfiança - http://blogs.elpais.com/gastronotas-de-capel/2011/11/michelin-2012-nada-que-celebrar.html, será que estamos todos errados?
Poderei dar mais exemplos de indignação e descontentamento, mas presumo que uma pessoa que começa um texto desta forma ofensiva, não vê para além do que crê.
Obrigado
Vicente

EuSouGourmet disse...

Evento de Abril: http://www.briefing.pt/marketing/10617-peixe-em-lisboa-revela-segredos-do-guia-michelin.html

http://www.novacritica-vinho.com/forum/viewtopic.php?t=9954&sid=f3a900d1023b4e3bc7d6688438846893

Para ter um pouco mais de informação

Francisco Pires disse...

Tendo a concordar com o Autor, ano após ano o guia michelin tem se descrebilizado pelo mais diverso tipo de acções. Desde atribuir estrelas a restaurantes fechados à bastante tempo, atribuir estrelas a restaurantes que ainda não abriram. Em Portugal teimam a prioritizar os Relais & Chateaux (Eleven, Fortaleza, Casa da Calçada, Lágrimas em Coimbra, Yeatman).
E se o país e a nossa gastronomia deve estar de parabéns, também deveria estar estupefacto com a falta de critérios, o melhor dos piores, não é a excelência entre os grandes.
Bom trabalho, é preciso ter coragem e dizer o que se pensa e não o que convém!

Jorge disse...

Boas Tardes,
Pelo que percebi da leitura o EuSouGourmet não pretende dizer mal dos que temos, mas sim apontar a falta de critérios utilizados nas estrelas em Portugal.
Concordo que não estava a espera do Feitoria, e muito menos que o Tavares mantivesse, mas se cá estão devemos estar orgulhosos e defender que são boas.
Gosto de pensar que é uma questão de falta de conhecimento e não de interesses, mas que é estranho é.
Quanto ao João acho que se precipitou nas palavras, pois conheço o Vicente e sei que ele anda bem informado.
J.

Anónimo disse...

O Panorama do Sheraton é muito fraquinho, para ser simpático... Mas gostos são gostos, daí que também pessoalmente não atribuo grande validade às "estrelas Michelin"