quarta-feira, 18 de maio de 2011

E agora com uma nova Alma

Há vícios que, por mais que passem os anos, nunca conseguimos largar, e um dos meus é, enquanto desço a Calçada Marquês de Abrantes, estar que nem lince à espera de um movimento suspeito de outro automóvel, e assim que sentir movimento, saltar com as garras afiadas para o lugar que vagou.

Agora já há por aqui vários parques (largo Vitorino Damásio), mas vícios não se largam.

O destino é o restaurante Alma de Henrique Sá Pessoa, para verificar a evolução da sua ementa, carreira e criatividade.

Desde Maio de 2009 que não visitava esta casa a não ser para apresentações de vinhos, e como sabia que havia carta nova dou por mim a bater à porta do número 92.

Confesso que este é um espaço que sempre me fascinou, pois a sua decoração “clean” onde o branco prevalece, não só nas paredes como nas mesas, cadeiras, serviço, ementas e até no fantástico candeeiro de algodão que paira pela sala, dá uma sensação de limpeza que me dá confiança.

Pormenores como o facto de podermos ver a traça da parede antiga nos pontos de luz e o pequeno vidro ao nível dos olhos que nos permite verificar os trabalhos que se efectuam na cozinha, são muito interessantes.

Não me vou perder em grandes pormenores técnicos pois a comida que o chefe Henrique Sá Pessoa prepara, é simples sem ser banal, fácil de provar e principalmente é uma comida com sabor e requinte.

As opções são várias, com uma carta bastante interessante e variada, só peca pela pouca variedade de sobremesas, mas porque um prato não chega para avaliar o trabalho deste chefe, optei pelo menu de degustação (€39).

Como é habitual neste tipo de restaurantes, comecei com a surpresa do chefe, servido numa chávena de café vinha um cappucino de espargos muito suave, um bom mote para o inicio do que se revelou uma bela refeição.

As vieiras sobre uma cama de couve-flor em puré e ovas de salmão, também se revelaram muito felizes, estando muito bem cozinhado e as ovas deram-lhe uma textura de explosão à boca, bastante relevante.

A cavala em água de tomate era interessante, diferenciador jogando muito bem a acidez deste vegetal com o peixe (por muitos considerado menor, mas nesta combinação ganho o estatuto de rei).

O camarão, as ervilhas (puré e grão) e a gema de ovo a baixa temperatura, foi o que se seguiu, respeitoso e interessante, mas foi o atum com a água de galinha (caldo) com os cogumelos shitaki e enoki que me deixou completamente rendido.

O caldo da galinha cozido com vegetais e os cogumelos não era demasiado gorduroso e enaltecia a graciosidade do atum, é nestes momentos que diferenciamos um bom chefe com técnica e conhecimento, daqueles que simplesmente copiam.

A procissão não ficou por aqui, e ainda houve tempo para o lombo de novilho com macarrão recheado com requeijão de Seia e pesto, acompanhado por tomate cherry confitado, confesso que não foi o meu preferido, pois não achei grande graça ao macarrão, mas no entanto notava-se que havia técnica e o prato estava bem pensado no que respeita ao sabor e texturas.

Terminei com um sopa de frutos silvestres e gelado de balsâmico envelhecido, novamente um prato interessante e irreverente, mostrando que o chefe Sá Pessoa trabalha bem diversos produtos.

O serviço foi sempre correcto e atencioso, fazendo do Alma um local onde se está bem, e a graciosidade da cozinha do chefe Henrique é a mais-valia de uma casa que merece ser visitada.

Detalhes
Alma de Henrique Sá Pessoa
Calçada Marquês de Abrantes, 92 – 94
1200 Lisboa (Santos-o-Velho)
09° 09' 18" W, 38° 42' 28" N
+351 213 963 527 / +351 910 535 610
www.alma.co.pt
Horário: Encerra ao domingo e segunda aos jantares, Aberto das 19h30 às 23h00
Preço médio: €45
Tipo de Cozinha: Autor
Cartões: Todos

Texto publicado originalmente no Lifestyle do diário OJE a 13 de Maio de 2011

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