Fachada do Restaurante Ferrugem |
Depois de duas tentativas falhadas, a primeira pela
minha fraca capacidade de me desenrascar sem GPS e a segunda por um infortúnio
pessoal, finalmente, e quando menos esperava, fui visitar aquele de que já tantas elogios mereciam dos
seus visitantes. E apesar de já conhecer a comida (em feiras e congressos), os
proprietários e cozinheiros, nunca os tinha visto a trabalhar no seu habitat
natural.
Eram
sensivelmente dez horas da noite quando olhei pela primeira vez para o edifício
(antigo estábulo do inicio do sec XVIII), suspense quebrado, expectativas
consolidadas, pois era exactamente o que eu imaginava, uma fantástica e bem
executada recuperação de um edifício em ruínas, traduzindo-se num palco único e
perfeito para a arte da gastronomia.
Ultrapassadas
as portas de vidro, regozijo os meus olhos com o espaço: um pé-direito
altíssimo, paredes de pedra, apenas escondidas por alguns quadros, uma
garrafeira repleta de néctares (lusos), uma lareira que nos dias frios deve ser
o alvo das reservas, e um tecto em madeira cativante.
Dei
inicio ao meu trabalho de investigação gastronómica, as opções dividiam-se em
três momentos: o primeiro mais inspirado nas entradas, o segundo nos principais
e o terceiro nos que adoçam a boca.
Assim, pode-se escolher o menu de Outono
(€28), optando por um prato por momento, degustação em 4 momentos (€32) e em 6
momentos (€40), com o complemento de vinhos sendo €15 e €20 respectivamente.
Dispensei
o pastel de nata de bacalhau que tanta fama dá à casa, pois apesar de gostar e
achar incrível, é tempo de ver o que mais se confenciona na cozinha da Dalila e
do Renato.
O
primeiro a chegar foi o cumprimento do chefe, composto por um caldo verde e a
broa de milho tostada com azeite. Bom, mas era apenas para abrir o palato,
mantenho a ânsia por algo mais interessante.
Chega então o Crocante de alheira
de caça, puré de maçã reineta e compota agridoce de tomate-cereja, um
best-seller segundo a casa.
Compreendo, pois tem tudo o que é necessário para
agradar, a crocancia da massa, os sabores fortes do enchido, o ácido da maçã e
o adocicado da compota. Gostei!
Caso
sério foram as Lascas de bacalhau com azeite transmontano e coral de azeitona,
legumes salteados e crocante de pão com chouriço, que além de aromas fortes e
atractivos, tinha uma apresentaçao que apelava ao uso do garfo. O nível
aumentou e a vontade de continuar também.
Chega
agora à mesa a Cabidela de polvo, basicamente é o polvo acompanhado por um
arroz feito na tinta de choco, dando ares visuais a cabidela. Neste, o octópode
estava tenro e saboroso e a mistura invulgar do arroz pintado dava um gosto
único.
Ainda
houve tempo para um lombo de veado, terra de cogumelos, puré de frutos, flores
e frutos silvestres, apelidado internamente de Floresta de Outono. Gostei,
carne no ponto correcto, texturas diferentes que elevavam o nível sensorial e
uma mistura de sabores a terra, e agridoces diferentes e bem conjugados.
Terminei
com dois doces, a Pêra rocha do oeste em geleia de porto vintage sobre tarte de
queijo fresco e o Tributo ao “abade de priscos” numa mousse de Outono, ambos na
toada dos anteriores, boa execução técnica, alma e inovação.
Os
vinhos foram todos a copo e estavam todos disponíveis na carta: comecei no
Afros Vinhão, passei pelo Soalheiro Alvarinho e Cottas Reserva e terminei com o
Porto Andresen Branco 20 anos e o DSF Colecção Privada Moscatel Roxo 2001 para
os doces.
Referencie-se
que a carta é bem elaborada, bem dotada e a preços adequados, longe da
exploração que vemos por este país fora.
Fiquei
apaixonado pela cozinha da Dalila e do Renato, que conseguiram em 2006 realizar
o sonho de abrir o “Ferrugem”, e que certamente vão ser os responsáveis de
muitos e agradáveis sonhos gastronómicos de quem visita a sua casa.
Aqui
transpira carinho, paixão e o saber, e sai-se com o estômago cheio, a alma
contente e a pensar já na próxima visita.
Detalhes
Restaurante Ferrugem
Restaurante Ferrugem
Rua das Pedrinhas, 32
4770-379 Portela - Vila Nova de Famalicão
N 41º27’41,8’’, W 8º26’53,6’’
+351 252 911 700
www.ferrugem.pt
Horário: Encerra aos domingos ao jantar e segundas o dia todo. Aberto das
12h00 às 14h30 e das 20h00 às 22h30
Preço médio: €35
Tipo de Cozinha: Criativa portuguesa contemporânea
Cartões: Todos
Tipo de Cozinha: Criativa portuguesa contemporânea
Cartões: Todos
Lascas de Bacalhau com azeite transmontano |
Pêra Rocha do Oeste em geleia de porto vintage |
Texto publicado originalmente no Lifestyle do diário OJE a 12 de Outubro de 2011
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